(Salvador/BA, 7/9/1947 ******* Salvador/BA, 30/3/2012)
Nascido Ederaldo Gentil Pereira foi. além de cantor, um grande compositor.
Aos 11 anos já participava da bateria da Escola de Samba Filhos do Tororó, começando a compor para a escola ainda muito jovem.
Nasceu no Largo Dois de Julho, um dos tradicionais bairros do centro de Salvador. Seus pais foram D. Maria José de Souza (D. Zezé) e Sr. Carlos Gentil Peres, antigo relojoeiro da capital baiana. Foi no Largo Dois de Julho que o menino Ederaldo Gentil passou parte da sua infância, brincando, estudando e trabalhando na modesta oficina do pai. Foi desta forma que aprendeu o ofício de relojoeiro o que ajudava nas rendas financeiras da família bastante numerosa.
Ainda adolescente mudou-se para o bairro do Tororó, também na área central da cidade, que era nessa época, o mais forte reduto do carnaval baiano. Ali podiam ser encontradas diversas agremiações carnavalescas, como o bloco Os Apaches do Tororó, a Escola de Samba Filhos do Tororó, entre outras. O menino Ederaldo começou bem cedo o gosto pelo carnaval, acompanhando o pai nos bailes à fantasia que eram realizados nos clubes tradicionais da cidade.
Por residir perto do QG do samba baiano, Ederaldo passou a freqüentar os ensaios da bateria da escola Filhos do Tororó. A sua facilidade em tocar instrumentos rítmicos logo despertaria a curiosidade e atenção dos mais velhos e compenetrados sambistas. Desses, em especial Arnaldo Silva (o Sêu Arnaldo), então presidente da Escola, foi quem lhe deu primeiro incentivo para o entrosamento no mundo do samba. Ainda adolescente, Ederaldo começa a elaborar as suas primeiras composições, participando ativamente da ala dos compositores da escola de samba Filhos do Tororó. Os seus sambas passaram a ser cantados nos ensaios da escola.
As dificuldades da vida obrigavam o jovem Ederaldo a procurar outras atividades profissionais para sobreviver. Por esse período, chegou a ter uma rápida passagem pelo mundo do futebol, onde atuou como meia-esquerda no Esporte Clube Guarany. Fazia uma dupla imbatível com o ex-jogador André Catimba, este que seria, mais tarde, um dos maiores nomes da história do Esporte Clube Vitória. Consta que Ederaldo Gentil chegou também a treinar no Vitória, porém a sua vocação maior não era o futebol, e sim, a música popular, e em especial, o samba. Contam os que o viram jogar que, comparado a muitos dos "craques" de hoje, o Ederaldo teria, com certeza, espaço em qualquer grande clube do Brasil ou do exterior, entretanto a música falaria mais alto em sua opção de vida.
Ao lado Batatinha, Riachão, Panela, Nélson Rufino, Edil Pacheco, Walter Queirós, Tião Motorista, Chocolate, Roque Ferreira, Nélson Balalô, Paulinho Boca de Cantor e Walmir Lima, é considerado a representação do samba de raiz na Bahia.
Com 20 anos, compôs "Rio de lágrimas". A música venceu o "Festival de Música da Prefeitura de Salvador", em 1967. No mesmo ano, compôs para a Escola de Samba Filhos do Tororó seu primeiro samba-enredo, "Dois de fevereiro". No ano seguinte ganhou outra vez o "Festival de Música da Prefeitura de Salvador", dessa vez com o samba "Silêncio". Este festival reinaugurou o Teatro Castro Alves, o principal da cidade, tendo sido o júri presidido por Dorival Caymmi e Jorge Amado e para o qual foram convidadas personalidades do Rio de Janeiro, como Sérgio Porto, Osacar Castro Neves, Quarteto em Cy e o crítico Ricardo Cravo Albin. No mesmo ano, classificou um samba-enredo de sua autoria, "História dos carnavais", em concurso promovido pela Prefeitura.
Tião Motorista foi responsável pela gravação de sua primeira música, "Esquece a tristeza". No ano seguinte, em 1969, Jair Rodrigues gravou pela Philips dois sambas seus em parceria com Edil Pacheco, "Alô, madrugada" e "Berequetê".
No ano de 1969 houve um fato, inusitado até hoje, na história do carnaval baiano, quiçá do país. Indisposto com as dissenções internas da sua escola, Ederaldo resolveu se afastar. Imediatamente seria assediado pelas escolas concorrentes que o convidaram para compor seus sambas-enredos. O resultado foi que, no carnaval de 1970, todas as outras nove escolas de samba de Salvador saíram no desfile principal da cidade com sambas-enredos assinados pelo mesmo compositor, Ederaldo Gentil. A única que não trazia essa autoria era, simplesmente, a sua escola - Filhos do Tororó. Esse fato por si só já seria digno de registro no livro de recordes - O Guinness Book.
Em 1970, com "O samba chama", venceu o "1º Festival de Samba de Salvador". Integrou o conjunto Função, com o qual fez diversos shows pela cidade de Salvador. Por essa época, Maria Bethânia e Eliana Pittman gravaram composições suas.
No ano de 1973, mudou-se para São Paulo e assinou contrato com a gravadora paulista Chanteclair, lançando seu primeiro disco, um compacto simples contendo duas composições suas, "Triste samba" e "O ouro e a madeira". Ainda neste ano, com a música "O ouro e madeira", venceu o "1º Concurso de Sambas" realizado no Pelourinho. Em 1975, o conjunto Nosso Samba regravou pela Odeon "O ouro e a madeira", tornando a música um grande sucesso e projetando o nome do compositor nacionalmente. Ainda nesse ano, retornou a Salvador e participou no Teatro Vila Velha do show "Improviso". Obteve também o primeiro lugar, no mesmo ano, no concurso de sambas-enredos de Salvador. Neste mesmo ano de 1975, gravou seu primeiro LP pela Chanteclair, "Samba, canto livre de um povo", interpretando "O ouro e a madeira", "Pam pam pam" (c/ Batatinha), "Rose" (c/ Nélson Rufino), "Fevereiro eu volto" (c/ Eustáquio de Olivieira) e "Samba, canto livre de um povo", em parceria com Edil Pacheco, entre outras. No mesmo ano, Alcione, no disco "A voz do samba", pela gravadora Philips, interpretou uma composição sua em parceria com Batatinha, "Espera".
Em 1976, lançou seu segundo disco, "Ederaldo Gentil - pequenino", também pela Chanteclair, no qual interpretou diversas composições de sua autoria, como "O rei" (c/ Paulo Diniz), "In-lê-in-lá" (c/ Anísio Félix), "Vento forte" (c/ Eustáquio Oliveira) e "A Bahia vem", em parceria com Batatinha. Ainda nesse ano, Alcione gravou "Agolonã" (c/ Batatinha). No ano seguinte, no LP "Pra que chorar", a cantora interpretou de sua autoria "Feira do rolo" e, em 1978, "A volta ao mundo".
No ano de 1983, pela gravadora Nosso Som Gravações e Produções, lançou o disco "Identidade". Nesse LP, incluiu "Luandê" (c/ Capinam), "Provinciano" (c/ Roque Ferreira), "Ternos da Lapinha" (c/ Gereba) e "Choro - dor".
Em 1998, a EMI lançou o disco "Diplomacia", de Batatinha. Nesse CD, juntamente com Batatinha, Nélson Rufino, Walmir Lima, Edil Pacheco e Riachão, participou da faixa "De revólver não". Constou ainda, neste mesmo disco, uma de suas parcerias com Batatinha, "Ironia", interpretada por Jussara Silveira. No ano seguinte, foi lançado o CD "Pérolas finas", em sua homenagem. Produzido por seu parceiro e amigo Edil Pacheco, o disco contou com diversas participações especiais, como as de Gilberto Gil e Felipe de Angola em "Luandê", composta após uma viagem do compositor a Angola; Luiz Melodia interpretando "Espera", parceria do compositor com Batatinha; Beth Carvalho em "Eu e a viola"; Elza Soares em "A saudade me mata" e Jair Rodrigues, recriando um sucesso de 1975 do grupo Nosso Samba, em "O ouro e a madeira". Ainda no disco aparecem o compositor e cantor Lazzo interpretando "Rose" (c/ Nélson Rufino) e Carlinhos Brown e Cézar Mendes em "Barraco". O poeta Paulo César Pinheiro prestou homenagem ao amigo interpretando "De menor" e a dupla Paulinho Boca de Cantor e Pepeu Gomes cantou "In-lê-in-lá", composta em homenagem à Mãe Menininha do Gantois. Outras participações se fizeram presentes nas vozes de cantoras novas, como Jussara Pinheiro em "Impressão digital" e Vânia Bárbara em "Oceano de paz". O disco trouxe ainda Edil Pacheco, parceiro e amigo, cantando "Maria da Graça", e a participação do cantor João Nogueira. Na linha de frente dos músicos, constam Maurício Carrillo (violão), Pedro Amorim (bandolim), Cristóvão Bastos (piano), Jorge Simas e Marco 7 Cordas (violões) e Luciana Rabello (cavaquinho).
Em 2004 sua composição "Passarela da vida" (c/ Dalmo Castello) foi incluída no CD "Passeador de palavras", de Dalmo Castello.
Entre seus principais intérpretes constam Agepê, Alcione, Miltinho, Eliana Pittman, Leny Andrade, Maria Bethânia, Jair Rodrigues e Roberto Ribeiro.
Entre seus maiores sucessos estão "O ouro e a madeira", "A Bahia vai bem", "Eu e a viola", "Rose", "Impressão digital", "A volta ao mundo" e "Feira do rolo".
Ederaldo Gentil morreu de infecção generalizada após complicações intestinais, aos 68 anos. Segundo amigos, ele começou a sentir dores na região do abdômen na véspera de seu falecimento quando, por recomendação de familiares, foi levado ao médico. Morreu no Hospital Ernesto Simões e foi sepultado no Cemitério Campo Santo, na Federação. Ele já vinha sofrendo problemas de depressão.
Ederaldo deixou mais de 200 músicas gravadas.
Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB e O Nordeste.
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