(Rio de Janeiro/RJ, 16/1/1926 ***** Rio de Janeiro/RJ, 17/3/2012)
Jorge Goulart, nome artístico de Jorge Neves Bastos, nasceu no bairro de Vila Isabel, na rua Araripe Junior. Era filho do conhecido jornalista Iberê Bastos e de Arlete Neves Bastos, cantora, que ao casar-se abandonou a carreira.
Era neto do Visconde de Niterói e fez o curso ginasial no Colégio Pedro II, onde começou sua participação política. Decidiu-se nessa época pela carreira artística. Desde garotinho vinha cantando. Nessa fase, no programa Escada de Jacó, do Prof. Zé Bacurau, ganhou o 1º prêmio. Começou antes dos 18 anos, aumentando por isso a idade, em circos e dancings.
Através do pai, que escrevia sobre o mundo dos espetáculos, teve contato com os nomes em evidência.
Conheceu, em 1943, o compositor Custódio Mesquita e passou a divulgar com exclusividade suas músicas.
Conheceria também o cantor João Petra de Barros e por ele seria levado à Rádio Tupi. Foi quando passou a adotar o Goulart, por sugestão da atriz Heloísa Helena, tirado de um fortificante, o Elixir de Inhame Goulart, bem de acordo com sua voz possante.
Entre as músicas de Custódio que divulgou, estava o samba "Saia do caminho", em parceria com Evaldo Rui, que gravaria, em 1945, na RCA-Victor, mas não chegou a ser lançada. Custódio faleceu e Evaldo preferiu destiná-la a Araci de Almeida, com alterações pequenas na letra para que pudesse ser cantado por mulher.
Devido a compromisso com a gravadora, lançou dois discos, que foram fracasso de vendas, não devido à qualidade das músicas ou deficiência do acompanhamento: "A Volta / Paciência / Coração e Nem Tudo É Possível / Feliz Ilusão". É que, sem nenhuma necessidade, fez um decalque absoluto de Nelson Gonçalves, que também era da RCA-Victor.
Durante quatro anos ficou longe do disco. Se a atuação nas rádios (Tupi, Globo, Tamoio) não rendia muito, no espetáculo "Um Milhão de Mulheres", no Teatro Carlos Gomes, durante dois anos, foi figura destacada e com rendimentos muitas vezes superiores. Findo o mesmo, voltaria às casas noturnas, até ser levado pelo compositor Wilson Batista a gravar duas músicas dele na Continental, para o carnaval de 1950: "Miss Mangueira" (com Antônio Almeida) e "Balzaquiana" (Com Nássara), esta uma marcha que o Brasil inteiro cantou e foi 2º lugar, na categoria, no concurso oficial de músicas carnavalescas.
Daí em diante, tornou-se rapidamente um grande astro. Realizou um de seus sonhos, atuar no cinema, quando participou do filme "Também Somos Irmãos", da Atlântica, dirigido por José Carlos Burle. Foi contratado pela Rádio Nacional e atuou em grande número de filmes musicais: "Carnaval no Fogo" (1949), "Não É Nada Disso" (1950), "Aviso Aos Navegantes" (1951), "Tudo Azul" (1952) e muitos outros.
No disco marcou êxitos memoráveis: "Mundo de zinco", "Cais do porto", "Samba fantástico", "Laura", "Cabeleira do Zezé", "A voz do morro", e inclusive versões, "Dominó", "Jezebel", "Smile". Foi eleito o Rei do Rádio de 1952.
Em 1958, a convite do presidente Juscelino Kubitschek, acompanhado de Nora Ney e outros artistas, organizou uma caravana artística com a finalidade de preparar a reaproximação com a U.R.S.S. e a China Popular. Os resultados foram excelentes, tanto que nos dez anos seguintes retornaram seguidamente aos países socialistas, aí gravaram vários LPs., bem como estenderam suas excursões à Bélgica, Áustria, França, Portugal e África. Foi um longo e importante trabalho de divulgação da música brasileira, com a preocupação em muitas ocasiões, de levar outros cantores, instrumentistas, dançarinas e passistas.
Colaborou por seis anos com o Império Serrano. Puxava seus sambas só com o megafone, dispensando quaisquer pagamentos em favor da escola e contribuindo para a divulgação dos compositores do morro. Fez o mesmo na Imperatriz Leopoldinense e na Unidos de Vila Isabel.
Por causa de sua participação no Sindicato dos Radialistas, foi impedido, pelo movimento de 1964, de continuar na Rádio Nacional, tendo a única saída de atuar no exterior: Portugal, Israel e outros países da Europa.
Em 1983 teve de extrair a laringe. Ficou curado, mas sem "seu instrumento de trabalho". Chegava ao fim sua notável carreira. Ficaram, porém, os discos para perenizar sua arte. Ele usava um colar de prata com uma medalhinha para proteger a traqueiostomia. Como o colarzinho irritava a pele, ele substituiu por uma toalhinha de crochê que sua mulher, Antonia mandava fazer no tom de suas camisas. Ele falava pela voz esofagiana.
Casou-se muito jovem, com 18 anos, e teve uma filha, Maria Célia. Já estava desquitado, quando conheceu Nora Ney no camarim do Copacabana Palace Hotel, numa data que não esqueceu jamais: 1º. 5.1952. Após o falecimento de Nora Ney casou-se novamente, com Antonia Lucia Bezerra Bastos.
Nora Ney, já estrela ascendente, vivia tumultuada separação de seu marido, que repercutia na imprensa, por causa do inconformismo e das concretas ameaças que sofria. Nora tinha dois filhos, Hélio e Vera Lúcia, mais tarde eleita Miss Brasil, em 1963.
Um casamento perfeito, que viriam a formalizar, no civil e no religioso, em 1992, na Igreja Presbiteriana Unida, conforme o convite, "consagrando 39 anos de longa e feliz união". Jorge Goulart conta que um dos segredos estava em dormir em camas e quartos separados. Assim de manhã os dois "estão sempre bonitos".
Em 1980, esteve à frente, junto com Nora, do show em homenagem a Lupicínio Rodrigues, "Roteiro de um boêmio", ainda realizado na Sala Funarte. Em 1981, também na Sala Funarte, participou do espetáculo "Oh! As marchinhas", também escrito e dirigido por Ricardo Cravo Albin, onde atuou ao lado de Emilinha Borba. O show rendeu um LP com o mesmo título lançado pela Phonodisc com clássicos do gênero como "As pastorinhas", de João de Barro e Noel Rosa, "História do Brasil", de Lamartine Babo, "Chiquita bacana", de Alberto Ribeiro e João de Barro, "O teu cabelo não nega", de Irmãos Valença e Lamartine Babo e "Pirata da perna de pau", de João de Barro e que seria seu último disco devido ao problema na garganta. Em 1982, realizou um show em comemoração aos 30 anos de casamento com Nora Ney, intitulado "De coração a coração", no Teatro Gonzaga, em Marechal Hermes, RJ.
No ano de 2000, participou da homenagem prestada a Nora Ney (em cadeira de rodas) no Canecão, Rio de Janeiro por Elymar Santos, quando foi ovacionada pelo público no momento em que dublou (em mímica) a gravação de seu sucesso "Laura", de João de Barro e Alcir Pires Vermelho. Nesse ano, o selo Revivendo lançou o CD "Amor, meu grande amor - Nora Ney e Jorge Goulart", com músicas dos dois.
Em 2003, participou do espetáculo "Canto para Nora Ney", apresentao pelas Cantoras do Rádio com roteiro, direção e apresentação em cena de R. C. Albin contando histórias dos bastidores do Rádio brasileiro. Em janeiro de 2004, o jornal O Pasquim 21 publicou entrevista sua na qual contou detalhes de sua vida e carreira.
Em 2009, foi homenageado por ocasião dos seus 83 anos de nascimento com um show realizado no Fluminense Futebol Clube e que contou com as presenças o do grupo Cantoras do Rádio, formado por Carmélia Alves, Ademilde Fonseca, Carminha Mascarenhas e Ellen de Lima, além das cantoras Eymar Fonseca e Mariúza.
Jorge Goulart morreu com 86 anos. Estava internado no Hospital Samaritano, em Botafogo, zona sul do Rio. Segundo a assessoria de imprensa do hospital, ele foi vítima de uma parada cardiorrespiratória. Foi enterrado no dia 18, no cemitério Jardim da Saudade, na zona oeste do Rio de Janeiro.
Fonte: Cifrantiga e Dicionário Cravo Albin da MPB.
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