(Brasília de Minas/MG, 1912 ****** Montes Claros/MG, 21/6/1998).
Zé Coco, José dos Reis Barbosa dos Santos, aprendeu a tocar com seu pai, que também construía violas. Quando pequeno, jâ brincava de montar instrumentos em madeiras.
Quando Zé Coco estava nascendo, passava por perto uma Folia-De-Reis e o menino foi consagrado por sua mãe aos Santos Reis, por isso José "dos Reis" foi o seu nome registrado no cartório.
Um dia, seu pai estava construindo uma viola, encordoou-a e saiu para guardar as ferramentas. Então, o menino de sete ou oito anos pensou: "nem que eu apanhe, vou pegar essa viola e tocar aquela música que meu pai tocou". O pai ouviu e voltou correndo, perguntando : "quem tocou a viola?". Mesmo assustado, o filho falou que tinha sido ele. Então, o velho pediu para ele tocar de novo e acabou dando o instrumento de presente para Zé Coco.
Na sua juventude participava de desafios em que a audiência apostava dinheiro no seu competidor preferido, como se fosse um jogo. Numa dessas "brigas de viola" venceu Novato Preto, considerado, até então, o "feiticeiro rei dos violeiros".
José Ramos Tinhorão, afirma que "quem um dia se deleitou com a festa `banjistica' do som country do LP americano Dueling Banjos, lançado pela WEA em 1978, na certa sentirá um frissom ao descobrir a extraordinária semelhança de efeitos da música dos caipiras do sul dos Estados Unidos com a viola de Zé Coco".
Fenômeno da cultura popular, Zé Côco foi admirado como um virtuose da viola e da rabeca (violino caipira). Ele dominava uma técnica de execução rara, que lhe permitia fazer solo e acompanhamentos ao mesmo tempo. Apesar de não ter tido nenhuma "leitura", nem das palavras nem de música, compôs em vários gêneros musicais, revelando seu talento genuíno e sua sensibilidade apurada. Fez lundus, mazurcas, dobrados, guaianos, corta-jacas, calangos e maxixes. Além disso, Zé Côco sabia tocar sanfona, violão, cavaquinho, caixa de folia e pandeiro. Sem ter tido professor, ensinou muita gente a tocar viola.
Foi também luthier (artesão de instrumentos musicais) e trabalhou como marceneiro, ferreiro, sapateiro, fazedor de cancelas, de engenho, de carro-de-boi, roda de ralar mandioca. Disso tudo, o que mais lhe dava alegria era tocar nas festas de Folia de Reis, que acontece todo mês de janeiro pelo país. Como costumava dizer, sua dedicação à Folia não era questão de profissão nem de promessa. Provavelmente era de fé, porque Zé Coco nasceu no mês da festa em 1912, no Riachão, lugarejo da zona rural de Brasília de Minas, no sertão mineiro.
Descoberto pelo repentista e pesquisador de cultura popular Téo Azevedo, quando já beirava os 70 anos de idade, Zé Côco gravou apenas três discos: "Brasil Puro", em 80, "Zé Côco do Riachão", em 81, e "Vôo das Garças", em 87. Muitas de suas peças musicais se perderam sem gravação.
No início de 1998 em São Paulo, Zé Coco foi a atração do Festival de Violeiros no Sesc Pompéia. O músico, que ficou hospitalizado por cerca de um mês, não conseguiu superar as complicações de um derrame e morreu aos 86 anos.
Ele, que foi chamado "Beethoven do sertão" por uma equipe de reportagem da TV alemã, pensava que com sua música iria ganhar dinheiro para comprar uma fazenda. Que nada, Zé Coco morreu pobre. Mas deixou como herança um patrimônio cultural inestimável e um lote de mil discos, de quando converteu seu terceiro LP, "Vôo das Garças", em CD. Como não conseguiu vendê-los, eles estão encaixotados na casa de sua filha, Luisa Soares, em Montes Claros, à espera de quem quiser preservar o que restou do mestre.
Fonte: Casa do Violeiro.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir