terça-feira, 27 de novembro de 2012

Carlos Galhardo

(Buenos Aires/Argentina, 24 de abril de 1913 — Rio de Janeiro/RJ, 25 de julho de 1985)

Castelo Carlos Guagliardi era o seu nome verdadeiro. Nasceu em Buenos Aires, veio cedo para São Paulo e pouco depois, com um ano de idade, transferiu-se para o Rio de Janeiro.

Filho de italianos, Pedro Galhardi e Savéria Novelli, teve três irmãos. Dois nascidos na Itália, uma nascida no Rio de Janeiro.

Em 1921, ingressou em uma escola pública onde cursou o primário e aos 8 anos, com a morte da mãe, o pai deixou-o com um parente no bairro do Estácio, para aprender o ofício de alfaiate. Apesar de não gostar do ofício, aos 15 anos já era um profissional.

Aos 16 anos de idade, empregou-se em uma charutaria, voltando pouco depois a seu ofício de alfaiate. Embora não gostasse do ramo, passou por várias alfaiatarias do Rio e, numa delas, trabalhou com Salvador Grimaldi, alfaiate e barítono com quem costumava ensaiar duetos de ópera.

Galhardo cantava, em casa, outras melodias, principalmente canções napolitanas. O início de sua carreira profissional, entretanto, só se deu por volta de 1933 quando, em casa de um irmão, conheceu Francisco Alves, Mário Reis e Lamartine. Galhardo cantou uma melodia do repertório de Francisco Alves, a música Deusa, de Freire Junior. Chico gostou e aconselhou-o a tentar o rádio.

Galhardo trabalhava, na época, numa barbearia e a manicure da casa tinha conhecimento com pessoas da Rádio Educadora (hoje Tamoio) e conseguiu para Galhardo uma oportunidade. Lá ele cantou Destino de Nonô e Luiz Iglézias.

No dia seguinte a esta apresentação foi procurado por um representante da Victor para um teste cantando o samba Até amanhã, de Noel Rosa, e foi contratado pela gravadora Victor, inicialmente fazendo parte do coro que acompanhava as gravações.

Em 1933 gravou então o seu primeiro disco com "Você não gosta de mim" de um lado e "Que é que há ?", do outro. A primeira dos Irmãos Valença e a segunda de Nelson Ferreira, ambos compositores pernambucanos, onde o disco fez sucesso.

Por essa época foi procurado pelo compositor Assis Valente, que tinha um samba aceito na Victor e estava à procura de um intérprete. Ofereceu a música a Galhardo que gravou então "Pra onde irá o Brasil ?" e "É duro de se crer", passando a interpretar diversos sambas, principalmente de Assis Valente.

Ainda em 1933, gravou "Samba nupcial"(José Luis e Jaime Silva), "Elogio da raça", em dupla com Carmen Miranda, "Prá quem sabe dar valor" e "Boas festas", todas de Assis Valente. "Boas festas", composta no Natal de 1932 por um solitário Assis, no quarto onde morava na Praia de Icaraí (Niterói), se tornaria a canção natalina extremamente conhecida dos brasileiros e uma das poucas do gênero que conseguiu sobreviver. Seu sucesso foi de extrema importância para Assis e também Galhardo, ambos em início de carreira à época do lançamento

No carnaval de 1934 o cantor obteve enorme sucesso com "Carolina", marcha de Bonfiglio de Oliveira e Hervê Cordovil. No ano seguinte, fez várias gravações para a Colúmbia dentre as quais "Boneca de pano" e "Mariana", marcha de Bonfiglio de Oliveira e Lamartine Babo, e estréia como cantor romântico com "Cortina de veludo", valsa-canção de Paulo Barbosa e Osvaldo Santiago, música que marcou época no Rio de Janeiro. Trabalhou ganhando caché em várias emissoras de rádio como Mayrink, Rádio Club, Rádio Philips e Radio Sociedade.

Nesse ano, assina seu primeiro contrato com a Rádio Cruzeiro do Sul.

Não tinha contrato com a Victor e por isso, quando Francisco Alves foi prá lá, achou que não teria mais chances de gravar e por isso assinou contrato com a Columbia, onde gravou 19 músicas, no período de 1934 e 1935.

Em 1935, gravou seu último disco na Colúmbia, registrando "Morena", marcha de Roberto Martins, e "Rei vagabundo", samba de Ataulfo Alves. Ataulfo, aliás era companheiro habitual, juntamente com Roberto Martins, nas noitadas cariocas.

Voltando à Victor, gravou "Madalena" marcha de Bonfiglio de Oliveira e "Você não sabe amor", samba de Ataulfo Alves e Alcebíades Barcelos, e alcança grande sucesso com a gravação de "Italiana", valsa de Paulo Barbosa, José Maria de Abreu e Osvaldo Santiago. A partir dessa gravação, a carreira do cantor foi repleta de grandes sucessos, tornando-se um dos quatro grandes cantores da era do rádio, ao lado de Orlando Silva, Sílvio Caldas e Francisco Alves.

Foi convidado a trabalhar na Rádio Cajuti e na Rádio Tupi e assinou contrato com a gravadora Odeon onde registrou "Dou-te um adeus", samba de Alcebíades Barcelos e Armando Marçal e "Apenas tu", valsa de Roberto Martins e Jorge Faraj.

Na Odeon gravou 25 composições no período de 1936 a 1937.

Gravou "A você", valsa de Ataulfo Alves e Aldo Cabral e "Quanta tristeza", samba-canção de Ataulfo Alves e André Filho, entre outros sucessos.

Transferiu-se para a Rádio Mayrink Veiga onde permaneceu por um período de 11 anos. Quando Francisco Alves deixou a Victor, em 1937, Galhardo voltou e conseguiu alí registrar os seus maiores sucessos não deixando mais a gravadora até o final de sua carreira.

Durante o período em que esteve na Odeon fez algumas gravações esporádicas na Victor, mas sua volta definitiva ocorreu em 19 de abril de 1937 quando foi relançado "Italiana", gravada por ele mesmo em 6.05.36 mas que não havia sido trabalhada adequadamente.

Depois de "Italiana" vieram, ainda em 1937, "Vela branca sobre o mar", "Mais uma valsa mais uma saudade", "Madame Pompadour", "Lenda Árabe", "Olá seu Nicolau" (Carnaval de 38).

Em 1938 participou do filme musical "Banana da terra" dirigido por J. Rui. Seus principais sucessos neste ano foram "Noite sem luar", "Alguém", "Vinte e quatro horas sem amor", "Junto de ti estou no céu", "Torre de marfim", "Quem vê partir um grande amor", "Mares da China", "Mulher", "Linda Borboleta" e outras.

"Sei que é covardia... mas", "Linda Butterfly" e "Perfume de mulher bonita" foram seus principais sucessos em 1939.

Em 1940 participou do filme "Vamos cantar", de Leo Martin e no ano seguinte do "Entra na farra", de Luís de Barros.

Para o carnaval de 1941 gravou a marcha "Ala-la-ô", de Haroldo Lobo e Nássara e a valsa "Nós queremos uma valsa", de Nássara e Frazão. A cada ano, novos sucessos.

No ano de 1945 Galhardo brilhou com "Será?", valsa de Mário Lago, "Bodas de prata", valsa de Roberto Martins e Mário Rossi, entre outros. Neste mesmo ano, lançou pela Continental, atuando ao lado de Dalva de Oliveira e Os Trovadores, a adaptação de João de Barro para a história infantil "Branca de Neve e os sete anões", com músicas de Radamés Gnattali.

Transferiu-se para a Rádio Nacional em 1948, onde permaneceu por quatro anos. Neste mesmo ano, gravou "23 de abril", samba de Roberto Martins e Ary Monteiro, e "Saudade do Maranhão", valsa de Roberto Martins e Dilu Melo.

Em 1952 passou a trabalhar na Rádio Mayrink Veiga e na Rádio Mundial. Nessa época foi a Portugal, apresentando-se neste país pelo período de um ano.

No ano de 1953 foi eleito "Rei do disco" pela revista do disco.

Em 1955 participou do filme "Carnaval em lá maior", de Ademar Gonzaga, e em 1957 atuou no filme "Metido a bacana", de J.B. Tanko.

Foi um dos cantores que mais vendeu discos no Brasil; sua vendagem de discos de 78 rpm só foi menor do que a de Francisco Alves.

Nos anos subsequentes, entre seus sucessos, muitos deles regravações de clássicos da MPB, destacam-se: "Guacira", de Hekel Tavares e Joraci Camargo, "Fascinação", versão de Armando Louzada para a valsa de Marchetti, "Chão de estrelas", de Sívio Caldas e Orestes Barbosa, entre tantos outros.

Ao final da vida, atuava com frequência em shows por todo o Brasil.

Em 1983 participou de seu último espetáculo montado, o show "Ala-la-ô", em homenagem a Nássara, que também atuava, apresentado na Sala Funarte - Sidney Miller.

Havia certa preferência pelas valsas e por isso chegou a ser conhecido como "O Rei da valsa"(dado por Blota Junior) no disco e "O cantor que dispensa adjetivos" no rádio.

Seus fãs são fiéis e até hoje cultuam com carinho sua memória. Galhardo era um gentleman tratando a todos com delicadeza e carinho sendo por isso muito apreciado, também, pelos colegas.

Ultimamente vinha exercendo funções administrativas na SOCIMPRO da qual havia sido um dos fundadores e presidente.

Galhardo faleceu no Rio de Janeiro em 25 de julho de 1985, aos 72 anos de idade deixando uma obra com mais de 550 interpretações em discos de 78 rpm agora totalmente recuperada pelo Collector's Studios. Seu corpo foi sepultado no cemitério de São João Batista, Rio de Janeiro, RJ.

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