terça-feira, 27 de novembro de 2012

Dorival Caymmi

(Salvador/BA, 30/4/1914 ******* Rio de Janeiro/RJ, 16/8/2008)

O compositor, cantor e pintor Dorival Caymmi nasceu em Salvador, Bahia, em 30 de abril de 1914.

Dorival Caymmi era descendente de italianos e desde cedo despertou para a música, uma vez que convivia com parentes que gostavam de tocar piano e o próprio pai era músico amador.

Aos 13 anos, Dorival Caymmi interrompeu os estudos no primeiro ano ginasial para trabalhar. Foi auxiliar de escritório, vendedor de bebida e de barbante, ilustrador e até repórter. Seu pai, além de funcionário público, era músico amador. A mãe, doméstica, cantava em casa. Na infância, tinha participado de coro de igreja. Adolescente, aprendeu violão sozinho e não tardou a começar a compor. Aos 20 anos estava cantando na Rádio Clube da Bahia, e aos 22 venceu um concurso de músicas para o Carnaval com o samba "A Bahia Também Dá". O prêmio: um abajur de cetim cor-de-rosa...

Ita era o nome dado para os navios que transitavam entre o norte e o sul do Brasil. Neles foram transportados muitos imigrantes nordestinos na primeira metade do século. Em abril de 1938, Dorival pegou um ita (o Itapé) e foi pro Rio de Janeiro morar numa pensão no centro. Para nenhum outro baiano no sul as coisas aconteceriam tão rapidamente como aconteceram para ele.

Dorival Caymmi tinha chegado à então capital do país havia alguns meses, quando foi procurado por João de Barro, o Braguinha. O grande compositor carioca, fazendo o argumento do musical "Banana da Terra", queria uma música sobre a Bahia para Carmen Miranda cantar no filme, em substituição a "Tabuleiro da Baiana", de Ary Barroso (este não tinha chegado a um acordo com o produtor).

Ocorreu assim o início retumbante da trajetória profissional de Dorival Caymmi, em 1939, com a inclusão no filme e a gravação que Carmen fez, com Caymmi, de "O Que É Que a Baiana Tem". Um marco de importantes consequências na trajetória de ambos (na dela, porque lhe inspiraria a criação da imagem com a qual se tornaria uma celebridade mundial).

A rapidez dos acontecimentos no início da carreira artística de Dorival atingiu também a sua vida particular. Com os seus seguintes êxitos, "Rainha do Mar" e "Promessa de Pescador", começou a atuar na rádio Nacional, onde conheceu a cantora Stella Maris; resultado: em 1940, dava início a um casamento que duraria para sempre e daria três filhos e ótimos músicos: Nana, uma das grandes damas da MPB, Dori e Danilo, dois músicos fora-de-série.

Dorival foi colecionando uma série de sucessos ligados à sua terra. Neles, cantou tanto o mar e as comunidades à beira-mar, retratados em suas canções praieiras, quanto as figuras e os costumes tradicionais do povo da sua cidade. Seus pescadores, de um lado; suas baianas, de outro.

Assim, acabou estilizando e exportando a cultura local para as demais partes do Brasil e depois para o mundo. No final dos anos 40, ele intensificou sua dedicação à pintura e ao desenho e também na maioria de seus quadros, de estilo figurativo, explorou temas baianos.

Nos últimos anos da década de 40 e nos primeiros anos 50, a produção caymmiana se altera. Nela passa a predominar o samba-canção, que vinha sendo praticado desde Noel Rosa até Ary Barroso. A gravação de "Marina", em 1947, por Dick Farney, inaugurou essa nova fase, também chamada de "urbana" ou "carioca". Nela prevaleceram temas românticos e intimistas, destacando-se parcerias com uma figura da alta sociedade do Rio, Carlos Guinle, como "Não Tem Solução" e "Sábado em Copacabana".

Estas duas – além de "Nunca Mais" – foram lançadas com sucesso por Lúcio Alves, que se tornou assim um dos principais cantores dos sambas-canções caymmianos, no início dos anos 50. À época, Caymmi já firmava como o grande intérprete de si mesmo. Isso ficaria evidenciado pelos LPs que passou a gravar a partir de 1955, como "Canções Praieiras" e "O Mar... O Violão... Caymmi e Suas Composições Praieiras", duas das maiores obras-primas da discografia brasileira.

No final dos anos 50, com a eclosão da bossa nova, foi eleito predecessor do movimento pelos seus protagonistas. De fato, a composição do baiano se constituiu num dos pontos-de-partida para a invenção do estilo de cantar e tocar violão de João Gilberto, que revolucionou a música popular brasileira e mundial. João fez então gravações históricas de "Rosa Morena", "Doralice", "Samba da Minha Terra" e "Saudade da Bahia".

Tom Jobim passou a destacar o caráter moderno da composição de Caymmi. Data daí o começo da grande e longa amizade que os dois cultivaram e que se estendeu às famílias - ambas, muito musicais - dos dois monstros sagrados da MPB.

Em 1965, vertida para o inglês por Ray Gilbert, a valsa-samba "Das Rosas", estourou nos Estados Unidos na gravação do cantor americano Andy Williams. O sucesso o levou àquele país, onde fez shows, gravou um programa de TV e um LP, passando quatro meses sediado em Los Angeles.

Em 1968, o governo da Bahia retribuiu-lhe a divulgação internacional da cultura com uma casa de presente, em Salvador. Ele voltou a morar na cidade por algum tempo, quando aumentou sua ligação com o candomblé, tornando-se obá (espécie de ministro) do terreiro Axé Opó Afonjá.

Em 1972, Dorival Caymmi gravou um disco contendo canções inéditas de inspiração religiosa. Uma delas, "Oração de Mãe Menininha", dedicada a uma célebre mãe-de-santo de Salvador, Menininha do Gantois, se tornou muito popular. O mesmo aconteceu, três anos depois, com "Modinha para Gabriela", gravada por Gal Costa. A música foi composta para a trilha de "Gabriela", novela da Rede Globo baseada no romance "Gabriela, Cravo e Canela", de seu grande e fraterno amigo Jorge Amado.

Ainda em 1975, ele mostrou outra composição relacionada com o candomblé, esta consagrada à deusa Iemanjá: "Sargaço Mar", no Festival Abertura, da Rede Globo. E ganhou de presente seu primeiro songbook: "Gal Canta Caymmi", por Gal Costa, considerada então por muitos a maior cantora brasileira.

Importantes homenagens dentro e fora do Brasil marcaram os anos 80 para Caymmi. Em 1984, no seu septuagésimo aniversário, ele foi condecorado em Paris pelo ministro da cultura francês, Jack Lang, com a "Comenda das Artes e Letras da França", atribuída a importantes personalidades culturais. No ano seguinte, inaugurou-se em Salvador a avenida Dorival Caymmi. Em 1986, no Rio, o artista virou enredo da Estação Primeira de Mangueira, com o qual a escola de samba venceu o desfile do carnaval daquele ano.

Àquela altura, suas aparições públicas já vinham se limitando cada vez mais a shows com seus filhos. Um deles - no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, em 1991 - ficou registrado no CD "Família Caymmi em Montreux".

Em 1992, Gilberto Gil o homenageou com uma canção, "Buda Nagô", gravada com Nana. No final de 1993, foi lançado o "Songbook Dorival Caymmi" - quatro CDs com canções suas nas vozes de dezenas de intérpretes da MPB. O lançamento inaugurou os tributos aos 80 anos do artista, comemorados no ano seguinte. Por essa ocasião saíram os dois volumes do songbook com seu nome contendo as cifras de 98 músicas e um disco com novas gravações de composições suas feitas por onze intérpretes consagrados.

Em 1998, a cantora baiana Jussara Silveira lançou um songbook do compositor - "Canções de Caymmi".

Dorival Caymmi faleceu no dia 16 de agosto de 2008, pela manhã, no Rio de Janeiro, e foi velado na Câmara de Vereadores da cidade.

O artista lutava contra um câncer renal desde 1999 e estava internado em sua casa desde dezembro de 2007.

A filha Nana Caymmi contou que o pai andava triste desde o dia 29 de abril de 2008, quando a companheira de tantas décadas, Stela Maris, que Caymmi conheceu nos estúdios da Rádio Nacional, entrou em coma e foi internada no Hospital Pró-Cardíaco. O estado de saúde do pai, que já não era bom, se agravou, quando ele “desistiu de viver”, na definição da filha.

“Nós passamos esta semana toda tentando melhorar o moral dele, mas ele estava em uma grande melancolia, numa tristeza muito grande. Desistiu de comer, desistiu de tudo. É mais ou menos como dizia minha cunhada: um caso de Romeu e Julieta”, comparou Nana

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, decretou luto oficial de três dias no Estado. Já o prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, disse, em nota, que lamenta a morte de Dorival Caymmi e que vai homenagear o músico com o nome de uma rua no Leblon, bairro da zona sul da cidade.

Fontes: Sites UOL, Globo, Terra; MPBNET; Cifra Antiga.

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