terça-feira, 27 de novembro de 2012

Dora Lopes

(Rio de Janeiro, 06/11/1922 ****** Rio de Janeiro, 24/12/1983)

A cantora e compositora Dora Freitas Lopes aos 14 anos de idade, fugiu de casa com a intenção de ser cantora de Rádio. Anos depois, radicou-se em São Paulo onde morou, bem como no Rio, onde morreria.

Em 1947, já se apresentava em casas noturnas. Nesse ano, consquistou o primeiro lugar no famoso e rigoroso programa de calouros apresentado pelo compositor Ary Barroso na Rádio Nacional interpretando o samba "Plac-plac", sucesso de Dircinha Batista alguns anos antes. No ano seguinte, gravou pelo selo Star o seu primeiro disco com os sambas "Volta pro teu barracão" e "Roubei o guarani". Em 1951, assinou um contrato com a gravadora Sinter e lançou o batuque "Cão cambieci", de Luiz Soberano e Anísio Bichara, e o samba-canção "Inclemência", de Armando Cavalcanti.

Em 1952, gravou duas composições da dupla Luiz Soberano e Anísio Bichara, a marcha "Moço direito" e o samba "Vou beber". No ano seguinte, gravou os sambas "Me abandona", de Sávio Barcelos, Ailce Chaves e Paulo Marques, e "Lei da razão", de Blecaute e Rubens Silva, além dos sambas-canção "Baralho da vida", de Ulisses de Oliveira e "Você morreu pra mim", de Fernando Lobo e Newton Mendonça. Ainda em 1953, apresentou-se no México e na Venezuela como integrante da orquestra-espetáculo de Ary Barroso, na qual, além de cantar em coro, interpreta sozinha a música "Chamego", e com Vieirinha a música "Macumba". Em 1954, lançou a batucada "Toma cachaça", de Índio do Brasil e Darci Viana, e a marcha "Pegando fogo", de J. Piedade, Humberto de Carvalho e Edu Rocha. Nesse ano, obeteve sucesso com o samba "Minha chave é você", parceria com Hamilton Costa e Waldemar Silveira gravado na RCA Victor por Dircinha Batista.

Em 1955, ingressou na Continental e no primeiro disco nessa gravadora lançou os sambas-canção "Toda só", de Hianto de Almeida e "Tenho pena da noite", de Catulo de Paula e Marino Pinto. Ainda nesse ano, gravou a marcha "Homem leão", de Haroldo Lobo e Brasinha, e o samba "Faca de ponta", de Peterpan, Ivan Campos e Celso Albuquerque. No ano seguinte, gravou o samba "Samba não é brinquedo", de Antônio Carlos Jobim e Luiz Bonfá, e o samba-canção "Tanto faz", de Luiz Antônio e Ari Monteiro. Também em 1956, teve o samba "Quatro histórias diferentes", com Bidu Reis, gravado pelo grupo vocal Quatro Estrelas.

Em 1957, transferiu-se para a gravadora pernambucana Mocambo e gravou o samba "Maria Navalha", de Manoel Casanova, Jorge de Castro e InácioHeleno e a batucada "Ina...Ina...", de sua parceria com Ari Monteiro. No mesmo ano, gravou a marcha "Fila de gargarejo", de sua autoria, José Batista e Nilo Viana, e o samba "Samba borocochô", de Inácio Heleno, Manoel Casanova e Jorge de Castro. Ainda em 1957, lançou pela Mocambo o LP "Enciclopédia da gíria", disco no qual interpretou as músicas "Dicionário da gíria", com César Cruz; "Banca de brabo"; "Falso cabrito" e " Galã continental", com Franco Ferreira; "Nega Odete", com Aldacyr Louro; "Baiuca do Leleco", com Zeca do Pandeiro; "Diploma de otário", com Ari Monteiro e "Tostão não tem troco", só de sua autoria, além de "Bom mulato" e " Ninando muriçoca", de Ari Monteiro e Zeca do Pandeiro; "Engolobada", de Zeca do Pandeiro e Geraldo Seraphim, e "Conversando na gíria", de Zeca do Pandeiro e Arthur Montenegro

Gravou em 1958, os sambas "Tuninho", de Antônio Bruno, e "O gingador", de Erasmo Silva e Geraldo Serafim; o bolero "Tu me acostumaste", de Frank Dominguez, e a "Marcha da pimenta", de sua autoria, Luiz Vanderley e Renato Araújo. Atou nas Rádios Nacional e Mayrink Veiga. Na década de 1950, fez um excursão pela Europa cantando na França, Itália, Suíça, divulgando ritmos brasileiros. Cantou também no México e nos Estados Unidos. Atuou com frequencia, nas boates do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Gravou em 1961, ainda na Mocambo os sambas "Tostão não tem troco", de sua autoria e "Falso cabrito", parceria com Franco Ferreira.

Raramente lembrada entre as cantoras/autoras da MPB, a carioca Dora Lopes de Freitas teve prestígio na época áurea do rádio e emplacou alguns sucessos de sua lavra, os sambas Toalha de Mesa, Ponto de Encontro e Samba na Madrugada e a marchinha carnavalesca Pó de Mico ("Vem cá seu guarda/ bota para fora esse moço/ que está no salão brincando/ com pó de mico no bolso").

Depois desviou-se para a área brega compondo para Agnaldo Timóteo, Edith Veiga e Waldik Soriano e participando como jurada do programa Raul Gil (a exemplo de Araci de Almeida no Sílvio Santos).

Dora, que em seu disco Testamento, de 1975 como um Nelson Cavaquinho de saias tematizava principalmente a morte, morreu praticamente esquecida (e endividada) em 1983, aos 62 anos. Nos seus epitáfios jornalísticos ninguém mencionou esse inacreditável disco, proveniente do selo Mocambo que deve ter sido gravado por volta de 1959 (não há qualquer informação na ficha técnica).
Do contrário, a cantora teria de ser incluída entre os primeiros militantes da bossa nova, especialmente pela faixa Tostão Não É Troco.

De arquitetura dissonante, costura de violão, um breve scat singing e quebrada rítmica típica, a letra (e música) da cantora dispara: "você é quadrado/ você não casa no meu sincopado/ você é todo na pauta/ eu sou improviso/ eu sou bossa nova/ você é muito implicante/ o meu beijo é dissonante".
Além disso, na faixa título ela também injeta bossa nova no Dicionário de Gíria. No mais, o repertório diferentaço (que inclui outros autores obscuros como Ary Monteiro, Cesar Cruz, Zeca do Pandeiro, Arthur Montenegro, Franco Ferreira e o único razoavelmente conhecido, Aldacir Louro) traz o requebro dos sambas de gafieira coalhados de gírias de época.
"Manera a raça e joga recuado/ tenteia que afobado come cru/ vai ao local do desacerto e diz a umas e outras", aconselha Bom Mulato. "Micha essa banca de galã continental/ você não é baton pra estar em tudo que é boca", cobra Galã Continental. Em Falso Cabrito, a abertura é um boogie woogie cortado pela cantora irada: "neca de transviado, neca de rock’n’roll, isso tudo é de araque, o negócio é teleco-teco".
E engata um samba onde um certo Arnaldo é criticado por andar atrás das ninfetas. "Quem gosta de broto é cabrito", manda Dora com sua voz rasgada. Na Baiúca do Leleco quem faz gracinha "leva um teco". Ela confere a outro personagem o Diploma de Otário: "No seu bolso falta sempre 90 centavos pra um cruzeiro".
Já Conversando na Gíria demanda um Aurélio datado do ramo: "uns e outros não gostam da sua chinfra/ pode ser mão de cinza/ aperta seu passo major/ vá lá na muvuca/ faz a pedida na hora maior". (De)Morô, malandro?

Ao longo de sua carreira, atuou na vida noturna de Copacabana, convivendo com toda a boêmia das décadas de 1950, 60 e 70.

Gravou um total de 19 discos em 78 rpm pelas gravadoras Sinter, Continental e Mocambo, além de 3 LPs. Como compositora seu maior êxito foi o "Samba da Madrugada", que foi incluído em sua homenagem no show "Estão voltando as flores", escrito e dirigido por Ricardo Cravo Albin entre 2001 e 2003. A homenagem lhe foi prestada em cena pela co-autora do samba Carminha Mascarenhas.

(Fonte: Tárik de Souza - CliqueMusic e Dicionário Cravo Albin de Música Popular Brasileira)

Um comentário:

  1. Um crime terem esquecido dessa grande figura da musica brasileira: será por ela ter sido gay assumida?
    Foi precursora da bossa nova e acompanhou Dalva de Oliveira, outra esquecida, quando esta estava no fim da vida.
    Grande DORA LOPES!

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