terça-feira, 27 de novembro de 2012

Miriam Batucada

(São Paulo/SP, 1º de janeiro de 1947 — São Paulo/SP, 2 de julho de 1994)

A cantora Miriam Batucada, nome artístico de Miriam Ângela Lavecchia, nasceu no bairro da Móoca, em São Paulo, no dia 28 de dezembro de 1946, mas foi registrada pelo seu pai no dia 1º de janeiro de 1947, ganhando assim um ano, como se dizia antigamente.

Miriam nasceu e morou na mesma casa até os seus 20 anos, na Rua João Antônio de Oliveira 459. Essa casa, já demolida, ficava bem em frente ao portão da entrada da Cia. União. A casa era igual a muitas construções típicas do bairro : duas janelas, entrada lateral sem cobertura e com um simpático portão de ferro com detalhes em arabescos, trabalho artesanal de serralheria; um pé direito bem alto e duas janelinhas com grades em baixo, que tinham a função de servir de respiração para o porão.

Miriam Lavecchia estudou sempre na Mooca : o jardim de infância na Escola Santa Terezinha, da Dona Rosa, na Rua Javari, o grupo escolar no Oswaldo Cruz e o curso técnico no Brasilux. Depois disso, fez um curso de digitadora na IBM e foi trabalhar na Alpargatas e na Arno, onde foi despedida por fazer batucada no teclado.

Como se vê, Miriam Batucada sempre foi muito musical. Com apenas 6 anos de idade já tocava harmônica, uma Scandalli de 120 baixos, maior do que ela. Suas aulas eram ministradas pelo professor Olímpio, na rua Iolanda. Quando menina, sabia a letra de uma grande quantidade de músicas e gostava de todos os gêneros musicais.

Aos 14 anos começou a tocar violão. Seu ritmo era fantástico. Vivia fazendo percussão, no tempo e no ritmo certo, com batidas nos sofás, paredes e móveis.

Pode-se dizer que Miriam começou efetivamente a sua carreira, cantando em festinhas de amigos e nas “peneiras”, tão comuns à época (similar aos atuais concurso de calouros) num clubinho da Cia. União, que ficava do lado da fábrica de meias Ibram, na Rua João Antônio de Oliveira, quase esquina da Rua da Mooca.

Mas, a sua marca registrada era a batucada feita nas mãos. Ela contou em uma entrevista na TV Cultura que tudo começou no salão de cabeleireira da Dona Adelina, na rua da Mooca. Lá, ela conheceu uma menina que morava na Rua Almirante Brasil, que tinha o apelido de Chacareira e foi essa menina quem lhe ensinou essa arte. No começo, o ritmo era lento,mas com dedicação e persistência (Miriam treinou durante uns 3 meses) saiu um ritmo frenético, rápido e no compasso de qualquer samba. Criou assim sua marca registrada.

No ano de 1967, quase todas as sextas feiras, Miriam e seus irmãos Milton e Mirna, iam assistir ao programa do Blota Jr. Esse programa tinha o estilo do atual programa do Jô Soares. Nessa época, a Record era a emissora líder, com uma audiência espetacular e o programa era transmitido ao vivo.

Numa dessas noites, Miriam recebeu um convite feito pelo filho do Blota Jr., para que na semana seguinte viesse mais cedo para fazer um ensaio rápido com o Caçulinha. E assim aconteceu.

Sua apresentação durou quase 2 horas. Blota Jr., o público e os telespectadores acharam fantástica a sua apresentação, com muita originalidade e autenticidade e, de quebra, Miriam ainda tocou todos os instrumentos que se encontravam no palco da Record naquele dia : piano, bateria, harmônica, violão, cuíca, além de batucar na mesa do apresentador e mostrar também a sua batucada nas mãos.

No dia seguinte, já era representada pelo famoso empresário Marcos Lázaro, sendo contratada pela TV Record. Participou do Programa de Sônia Ribeiro e, em seguida, ganhou um programa com Ronie Von nas tardes de sábado.

Foi durante sua apresentação num programa de televisão que Cidinha Campos a intitulou de Miriam da Batucada. Como o "da" na época não estava na moda, Miraim o extraiu e ficou só com o codinome de Miriam Batucada. Mas, com esse nome ela pagou um preço bem alto, pois seu repertório foi canalizado para o samba, quando a sua preferência e suas melhores interpretações eram do estilo romântico, que combinava muito com o seu timbre de voz grave e sensual.

Com esse sucesso, passou a ser constantemente requisitada para shows onde conseguia segurar o público entusiasmado por quase duas horas com diálogos inteligentes, musicas conhecidas e inéditas, críticas com temas políticos e do cotidiano e um resgate dos tempos passados que marcaram gerações. Quando, nos shows, interpretava suas paródias falando sobre política,ela vestia uma máscara de palhaço. Vários desses shows foram apresentados no exterior, em países como Estados Unidos, França, Itália e Portugal.

Todo esse sucesso não foi condizente com o pequeno acervo discográfico, pois Miriam, em toda sua carreira, só gravou 5 compactos e dois LPs sendo um deles, intitulado “Sociedade da Grã Ordem Cavernista” em parceria com Raul Seixas, Edy Star e Sérgio Sampaio.

A Mooca para a Miriam era sua segurança, o conhecido, sua formação e sua paixão. Era sua régua e compasso. Ela dizia também, que a Rua João Antônio de Oliveira era a ONU, porque desde criança compartilhou com todos os vizinhos e amigos descendentes de nacionalidades diferentes: Italianos / espanhóis / japoneses / hungareses / portugueses / judeus e turcos (na época não se falava nem sírio, nem árabe, nem libanês : eram todos turcos mesmo), dando-lhe um diversificado conhecimento cultural que influenciava os seus hábitos e comportamento.

Mas Miriam Batucada guardava uma mágoa da Mooca, pois dizia que o seu querido bairro não valorizava o seu talento.

Miriam Batucada faleceu precocemente, no dia 2 de julho de 1994, sendo encontrada morta em seu apartamento onde morava sozinha no Bairro de Pinheiros, por sua irmã Mirna, que residia em Maringá, 21 dias após ter sofrido um infarto fulminante.

A Moóca só a homenageou, após a sua morte, atribuindo o seu nome a uma travessa da Rua Bixira – Travessa Miriam Batucada.

Fonte: Site Portal da Moóca. 

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