terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sílvio Caldas

(Rio de Janeiro/RJ, 23 de maio de 1908 — Atibaia/SP, 3 de fevereiro de 1998)

Sílvio Antônio Narciso de Figueiredo Caldas, mais conhecido por Sílvio Caldas, nasceu em 1908, no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, numa família grande e musical.

O pai, Antônio Narciso Caldas, possuía uma pequena loja de instrumentos, consertava e afinava pianos e era compositor (Orlando Silva chegou a gravar uma valsa sua, "Neusa", em 1938). A mãe, a avó e as tias cantavam no coro da igreja, nas festas e quermesses. Um dos seus quinze irmãos, Murilo Caldas, três anos mais velho, também se tornaria cantor, obtendo certo prestígio nos anos 30.

Sílvio Caldas cresceu ouvindo música e cantando em festas familiares e escolares. Sua primeira apresentação ocorreu aos seis anos de idade, numa conferência no Teatro Fênix. À época, ele já integrava um bloco carnavalesco chamado Família Ideal.

Parte da infância e a adolescência de Sílvio se dividiram entre as diversões e alguns serviços. Seus pais lutavam com dificuldades pela sobrevivência da família, e ele começou a trabalhar cedo – aos nove anos, como auxiliar de mecânico. Depois, exerceu uma série de atividades.

Em São Paulo, para onde foi tentar a sorte aos dezesseis anos, foi lavador de automóveis e mecânico em diversas oficinas. Chegou a trabalhar até na rodovia Rio-São Paulo, como motorista e cozinheiro. Depois, trabalhou como leiteiro no Rio de Janeiro. Entre um serviço e outro, cantava e fazia boemia.

Sílvio Caldas cantou pela primeira vez em rádio em 1927, na Mayrink Veiga, do Rio. Em 1929, passou para a Sociedade. Depois disso, foram muitas – da Tupi à Nacional, nos anos 50 – as emissoras que o contrataram.

Em 1930, deu-se sua estréia em disco. A bossa que mostrou como intérprete de samba em suas gravações iniciais logo atraiu o compositor Ary Barroso, que o levou imediatamente para a revista musical "Brasil do Amor" (dele, Ary, e de seu parceiro Luís Peixoto). Lá, Sílvio Caldas cantou "Faceira", de Ary Barroso , com grande criatividade, marcando o ritmo com um número de sapateado. Em seguida veio a gravação do samba, seu primeiro sucesso.

Em 1931, ele atuou em outra revista, "Mar de Rosas". Nela, lançou "Mão no Remo", de Ary e Noel Rosa, e, deste, "Cordiais Saudações", "samba epistolar" (na definição do autor), que ele cantou sentado a uma mesa, fingindo escrever uma carta. O trabalho no teatro prosseguiu no ano seguinte, em dois novos musicais.

Também data de 1932 o seu lançamento de "Maria", de Ary Barroso e Luís Peixoto. E de 1933, o de outro grande clássico, "Lenço no Pescoço", do então jovem sambista Wilson Batista. A música foi o ponto de partida de uma histórica polêmica musical travada entre o seu autor e Noel Rosa.

Naquele ano Sílvio excursionou à Argentina, como integrante de uma companhia de revista, e, na volta, se casou. O enlace com uma moça chamada Angelina iniciou uma série de casamentos que o artista viria a ter em sua longa vida.

Sílvio vivia intensamente a boemia do Rio da época. A um ponto que, consta, chegava a não cumprir determinados compromissos profissionais em nome de um bom programa ou uma serenata marcada de última hora. Frequentava, por exemplo, os bares e cabarés da Lapa, o bairro carioca mais boêmio daquele tempo. E no Centro, o Café Nice, point de encontro dos artistas da música popular.

No Nice, em 1934 – ano que Sílvio iniciou muito bem, estourando "Linda Lourinha" (de João de Barro) no Carnaval –, ele conheceu o letrista Orestes Barbosa. Com este, o cantor passou a investir também na atividade de compositor, estabelecendo uma importante parceria.

As duas primeiras músicas da dupla foram "Quase Que Eu Disse" e "Torturante Ironia", incluídas no filme "Favela dos Meus Amores", dirigido por Humberto Mauro. O próprio Sílvio participou do longa no papel de ninguém menos que o personagem Zé Carioca (idéia que mais tarde seria aproveitada por Walt Disney). Também cantou dois sambas, um deles "Inquietação", de Ary Barroso.

Sílvio e Orestes produziram juntos as mais famosas canções do gênero seresteiro. Algumas logo se tornaram grandes hits. A mais célebre delas, no entanto, não estourou de imediato. Foi o clássico "Chão de Estrelas", que o próprio Sílvio gravou em 1937. Em 1938, os dois compuseram sua última música em parceria: "A Única Rima", só lançada pelo intérprete em 1955.

Em 1937, o locutor de rádio César Ladeira, que criava apelidos para vários artistas, começou a chamar Sílvio Caldas de "Caboclinho", nome de um pássaro-cantor do Norte do país. O nome pegou definitivamente.

Naquele ano, o cantor gravou um dueto com Carmen Miranda: "Fon-Fon", de João de Barro e Alberto Ribeiro. E no ano seguinte, uma marcha de João de Barro e Noel Rosa destinada a ser uma das músicas mais populares de todos os tempos no Brasil: "Pastorinhas".

Também em 1938, Sílvio foi eleito "Cidadão Samba", no Rio. Em 1939, venceu o concurso oficial de músicas carnavalescas cantando "Florisbela", que suplantou a célebre "A Jardineira", com Orlando Silva.

Nos anos 40, os sucessos diminuíram em quantidade, mas o artista se manteve em alta, apresentando-se constantemente em espetáculos e emissoras de rádio. A participação em cinema aumentou: ele apareceu em mais três filmes.

Nos anos 50, ele virou uma das maiores atrações do rádio brasileiro. Apresentou um programa exclusivo, "Canta o Seresteiro", na Rádio Nacional (uma espécie de Rede Globo daquela época), e depois, outro, "Seresta de Sílvio Caldas", na Tupi, ambas do Rio.

Naquela década, ele continuou gravando os autores clássicos das gerações anteriores, como Custódio Mesquita e Ary Barroso – de quem editou, em 1954, um songbook com oito músicas, fixando-se como grande intérprete do compositor. Mas ao mesmo tempo abriu seu repertório para canções de compositores então novos no cenário musical brasileiro. De Vinícius de Moraes, por exemplo, lançou "Poema dos Olhos da Amada", em 1954. E de Billy Blanco, "Viva Meu Samba" e "Pistom de Gafieira", com as quais voltou ao topo das paradas em 1958 e 1959, respectivamente.

Em 1957, repercutiu muito a homenagem que ele recebeu de um ilustre admirador, o então presidente da República, Juscelino Kubitschek, que o presenteou com um violão.

O final dos anos 50 marcou para o artista o início de uma bem-sucedida produção em série de LPs. Foram seis, de 1959 a 1966. Já à época era chamado também por um novo apelido: "Titio", por causa dos cabelos brancos que passaram a sobressair em sua cabeça e a caracterizar a sua imagem – assim como o porte ereto, alto e elegante.

A despeito da boemia, Sílvio Caldas pautou a maior parte de sua carreira artística pelo profissionalismo. Mas não se dedicou unicamente à música, tendo sido também dono de casa noturna e de restaurantes. Aliás, gostava muito de cozinhar, gozando de boa reputação como cozinheiro. Gostava também de pescar. De espírito aventureiro, chegou a se embrenhar pelos sertões de Goiás para garimpar. Era de temperamento relaxado, despreocupado, tranquilo.

Em 1965, comprou e foi morar em um sítio em Atibaia, cidade do interior de São Paulo, próxima à capital do estado. Dali em diante, passou a sair apenas para os espetáculos que continuou fazendo, embora menos assiduamente, em vários cantos do país. As gravações também prosseguiram mais esparsamente.

Na década de 70, sua discografia destacou a realização de dois álbuns divididos com outros intérpretes de renome, um no cenário nacional (Elizeth Cardoso), outro no internacional (Pedro Vargas): "Eliseth Cardoso e Sílvio Caldas" (duplo) em 1971 e "Sílvio Caldas e Pedro Vargas ao Vivo no Canecão" em 1977.

Com o crescente afastamento dos palcos, tornou-se comum, de tempos em tempos, Sílvio Caldas anunciar um show de despedida da sua carreira. Ele se despediu "oficialmente" várias vezes. Esses anúncios se tornaram folclóricos.

Em 1988, para comemorar seu octagésimo aniversário, "O Seresteiro" voltou a cantar na praça Tiradentes, no Rio, revivendo os primórdios de sua trajetória artística. Já havia tempos, ele costumava aproveitar suas apresentações para contar muitos casos que integravam a história da música popular brasileira. Fazia isso de uma perspectiva privilegiada: a de um protagonista – e testemunha viva – dessa história. E como estratégia de quem defendia ardorosamente nossa música, precozinando a necessidade de sua preservação.

Uma de suas últimas temporadas de shows aconteceu em 1993, aberta com duas semanas de espetáculos no Rio Jazz Club. Tinha então 85 anos. Até um ano antes de morrer, ele ainda se apresentaria – num show coletivo, em São Paulo.

Apesar disso, não gravou nenhum disco nos dezoito anos que antecederam sua morte. Em contrapartida, mereceu um songbook do cantor Zé Renato, componente do grupo vocal Boca Livre, em 1994. O jovem intérprete lançou então o CD "Arranha-Céu", composto somente de sucessos de Sílvio Caldas.

Foi a última homenagem significativa recebida pelo cantor, que dois anos antes havia ganho a Medalha Machado de Assis, concedida pela Academia Brasileira de Letras (a proposta havia partido do escritor Jorge Amado).

Sílvio Caldas morreu em 03 de fevereiro de 1998, no sítio onde vivia com a sua última mulher, Miriam, quase quarenta anos mais nova que ele, e os dois filhos do casal, Roberto e Camila, de 21 e 20 anos de idade respectivamente, além do neto Vinícius. A situação econômica do artista, então, não era das melhores: o sítio estava hipotecado havia mais de quinze anos.

Fontes: Site UOL (Site Oficial Sílvio Caldas); Wikipédia, Instituto Cultural Cravo Albin.

Nenhum comentário:

Postar um comentário