terça-feira, 27 de novembro de 2012

Jamelão

(Rio de Janeiro/RJ, 12 de maio de 1913 **** Rio de Janeiro/RJ, 14 de junho de 2008)

José Bispo Clementino dos Santos, conhecido como Jamelão, nasceu no dia 12 de maio de 1913, no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro.

Jamelão mudou-se com os pais para o bairro do Engenho Novo, onde passou a maior parte de sua juventude. Foi lá que começou a trabalhar para ajudar a sustentar a família com sua irmã e mais dois irmãos, pois seu pai havia se separado de sua mãe.

O moleque Saruê primeiro foi engraxate, depois vendedor de jornal, e, finalmente, tocador de tamborim e cavaquinho nos subúrbios cariocas.

Virou Jamelão por invencionice talvez de um apresentador de programas de rádio, ou então de um gerente de gafieira. Isso não se sabe ao certo.

Jamelão trabalhou numa fábrica de borracha também no Engenho Novo, e ali começou a sair na noite com um outro amigo e a conhecer muitas músicas num lugar chamado "Eldorado", onde começou a se envolver com música.

Aos 15 anos, Saruê, cavaquinista e ritmista de certo prestígio em alguns poucos bairros da periferia carioca, conheceu o sambista Lauro Santos, o Gradim, que o levou à Escola Estação Primeira de Mangueira.

Na Mangueira, Jamelão começou na bateria, depois foi se enturmando com o pessoal do samba. Nessa época, ele não tinha quaisquer pretensões artísticas. Ia para a avenida para tocar tamborim e paquerar as meninas. Com o passar do tempo, começou a participar das rodas que ocorriam após o desfile, na Praça Onze.

Segundo ele, lá "paravam os batuqueiros", para fazer um "samba pesado. Samba duro, de roda". Essas rodas de samba, vez por outra, acabavam com a chegada da polícia. A explicação de Jamelão é que nessas rodas sempre aparecia um "Zé Mané querendo fazer o nome. A rapaziada, então, pegava ele na pernada. O sujeito guardava a raiva e voltava no ano seguinte, querendo vingança. Já vinha armado e aconteciam brigas sérias. A polícia sempre intervinha".

Em 1945, Jamelão participou, sem sucesso, de um programa de calouros na Rádio Ipanema. Foi gongado.

Dois anos depois do gongo, Jamelão venceu o concurso de calouros promovido pela Rádio Clube do Brasil e assinou, como prêmio pela vitória, um contrato de um ano com a gravadora Continental.

Em 1948, com o final do contrato com a Continental, Jamelão passou para a Rádio Tupi, onde se apresentava nos "dancings" Brasil e Farolito. No ano seguinte, 1949, Jamelão começou a sua carreira como intérprete da Mangueira. Nesse mesmo ano, substituiu o cantor Francisco Alves em um show no Teatro João Caetano, no Rio.

Em 1952, já gozando de certa fama, Jamelão viajou para a França como "crooner" da Orquestra Tabajara do maestro Severino Araújo, para cantar em uma festa promovida por Assis Chateaubriand e pelo estilista francês Jacques Fath, no castelo de Coberville, nos arredores de Paris. A festa marcou a apresentação do algodão brasileiro para a alta-costura européia, e, segundo reza a lenda, dela participaram celebridades como Orson Wells e Jean-Louis Barrault.

Foi também como "crooner" da Orquestra Tabajara que Jamelão protagonizou o memorável banho na big band americana de Tommy Dorsey, em um duelo ocorrido no auditório da antiga rádio Tupy. Esse duelo, de repercussão internacional, deu à voz de Jamelão e à orquestra de Severino Araújo passaporte para as várias apresentações pela Europa.

Em 1954, ele se transferiu para a gravadora Continental, onde obteve grande êxito com as músicas "Leviana" (Zé Keti e Armando Reis), "Folha Morta" (Ari Barroso) e "Deixa de Moda" (Padeirinho). Dois anos depois, ele fez muito sucesso com a gravação da música "Exaltação à Mangueira" (Enéias Brito e Aluísio Augusto da Costa), feita para o desfile daquele ano. Em 1959, ele gravou "Ela Me Disse Assim" de Lupicínio Rodrigues e fez enorme sucesso.

Nove anos depois, em 1968, Jamelão entrou para a ala de compositores da Mangueira. Em 1972, gravou o LP "Jamelão Interpreta Lupicínio Rodrigues", totalmente dedicado à obra do compositor gaúcho. Nele o cantor é acompanhado pela Orquestra Tabajara. Daí pra frente sua fama correu o país. Tanto que alguns anos mais tarde, a Câmara Municipal de São Paulo deu a Jamelão o título de Cidadão Paulistano.

Em 1979, ele lançou o LP "Jamelão", no qual há faixas repletas de desgraças de amor. Coisas como "Coquetel de Sofrimento", "Castigo e Molambo". Mas a melhor de todas é "Imantação", na qual Jamelão, com sua voz metálica e poderosíssima, interpreta versos como o que se segue:

"O impacto dos corpos sem amor é psicose
Quando a gente não define as pretensões".

Em 1987, Jamelão gravou outro LP dedicado a Lupicínio Rodrigues intitulado "Recantando Mágoas - A Dor e Eu". Esse LP também está recheado de músicas a respeito de amores incompreendidos e lancinantes saudades. Com ele, Jamelão sedimentou sua carreira de cantor de amores sofridos e de infelicidades.

Para muitos críticos, essa faceta de Jamelão o coloca como um dos maiores cantores de músicas de "dor de cotovelo", enquanto que para o próprio Jamelão elas são todas músicas de "cantor romântico".

No carnaval de 1990, Jamelão anunciou o fim da sua carreira de intérprete de escola de samba. Durante o que seria seu último desfile, Jamelão -que havia chegado ao sambódromo com febre alta- passa mal, mas consegue terminar o desfile. Na praça da apoteose, ele anunciou, pelo microfone do carro de som, sua decisão de parar de cantar em desfiles, dizendo: "Queria agradecer a toda a escola, à bateria, maravilhosa. Estou encerrando aqui meu trabalho como intérprete de samba-enredo."

Nessa época, Jamelão começava a enfrentar problemas com a pressão e, segundo sua mulher, Delice, "estava cansado". Mas, no ano seguinte, ele voltou a ativa. Continuou sendo o intérprete dos samba-enredo da verde e rosa. Aliás, Jamelão não é puxador de samba. Segundo ele, "puxador é quem fuma maconha ou rouba carro". Ele é intérprete.

De personalidade forte e sem papas na língua, Jamelão era, também, um homem de muitas manias. Uma delas era o costume de andar com uma caixa cheia de elásticos no bolso e alguns deles nas mãos. Conforme dizia, carregava os elásticos para utilizá-los no dia em que ganhar bastante dinheiro. Porém, sabe-se que ele adquiriu essa mania do elástico depois de trabalhar muitos anos na polícia do Rio, chegando a aposentar-se naquela instituição. A sobriedade de suas interpretações mesclada com sua personalidade e suas já folclóricas manias o tornaram uma das mais importantes figuras da música popular brasileira.

Em 1994, pela primeira vez na história da Mangueira, Jamelão dividiu a interpretação de um samba-enredo, ao gravar com Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia a música de sua Escola no disco com os sambas das escolas do Grupo Especial daquele carnaval. A idéia de juntar Jamelão e os baianos homenageados pela escola foi de Ivo Meirelles, então vice-presidente da Mangueira. O samba gravado é "Atrás da Verde e Rosa Só Não Vai Quem Já Morreu", de Davi Corrêa, Carlinhos Sena, Bira do Ponto e Paulinho Carvalho.

Em 1997, a gravadora Continental lançou a coletânea "Jamelão - A Voz do Samba", em 3 CDs, com a compilação de 33 anos de sua carreira do cantor. Nesse ano Jamelão também participou junto com Alcione, Carlinhos Vergueiro, Chico Buarque, Christina, João Nogueira, Lecy Brandão, Nelson Sargento e Velha Guarda da Mangueira da gravação do CD "Chico Buarque da Mangueira".

No carnaval de 1998, Jamelão conquistou seu sexto estandarte de ouro como intérprete de samba enredo no carnaval carioca. Em 1999, foi eleito o intérprete do século do carnaval carioca por 80 jurados do Rio e de São Paulo, em um prêmio oferecido a profissionais, enredos e sambas. No dia 20 de fevereiro de 2001, foi internado, na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, no Centro do Rio, com quadro de patologia vascular nas pernas. Em janeiro do mesmo ano, foi eleito presidente de honra da Mangueira -cargo máximo da escola. Em novembro seguinte, Jamelão recebeu a medalha da Ordem do Mérito Cultural pelas mãos do presidente Fernando Henrique Cardoso e dormiu durante a cerimônia.

Para esse premiado mestre do carnaval carioca, os sambas-enredo não são mais os mesmos. Segundo ele, "hoje é difícil um samba-enredo com melodia inédita, as melodias são sequências umas das outras". Afirmava que, antigamente, se fazia um samba mais cadenciado, hoje, "a bateria sai tuc-tuc-tuc. Parece até uma parada militar. Todo mundo marchando: desfile militar de samba". Essa militarização do samba, para ele, é culpa da televisão, pois hoje o tempo para acabar o desfile é determinado pela televisão. De acordo com o que fala o dono da voz da Mangueira nos carnavais cariocas, "a televisão é que manda e desmanda no samba".

Em junho de 2005, Jamelão causou alvoroço durante a São Paulo Fashion Week. De terno branco, chapéu e bengala, entrou na passarela depois que as modelos saíram de cena. Com passos curtos e andando bem devagar, o cantor fez todos na sala de desfiles se levantarem para o aplaudirem de pé.

Jamelão morreu por volta das 4h30 do dia 14 de junho de 2008, segundo informações da Casa de Saúde Pinheiro Machado, no Rio de Janeiro, onde estava internado desde a madrugada de 12 de junho de 2008.

Seu corpo foi velado na Mangueira na tarde e enterrado no cemitério São João Batista. A escola de samba lamentou a morte de seu presidente de honra.

Jamelão morreu em decorrência de falência múltipla de órgãos. Ele havia sido internado com um quadro de infecção pulmonar e urinária. Segundo a clínica, os problemas de saúde eram decorrentes da idade avançada do cantor --ele já havia sofrido acidentes vasculares cerebrais.

O artista sofria de hipertensão e diabetes e, desde 2006, quando sofreu dois derrames, passou a ter dificuldades para se alimentar. No fim do ano passado, ele foi internado no Rio com um quadro de desidratação e desnutrição.


Fontes: Sites Folha Uol, Ego, Revista Época, O Estado de S. Paulo; Almanaque UOL.

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