terça-feira, 27 de novembro de 2012

Marinês

(São Vicente Ferrer/PE, 16/11/1935 ******** Recife, 14/11/2007)

Filha do ex-cangaceiro do bando de Lampião Manoel Caetano de Oliveira e da dona de casa Josefa Maria de Oliveira, dona Donzinha, a menina Maria Inês Caetano de Oliveira nasceu em 1935, em São Vicente Ferrer , Pernambuco. Seria a Paraíba que acolheria no lombo da Borborema, em Campina Grande, a família que se mudou em 1940. Ali viveu a infância, a mocidade, o começo da carreira e a união com o sanfoneiro Abdias.

Da primeira vez que se apresentou num programa de calouros, na extinta Voz da Democracia, em Campina Grande, na Paraíba, Marinês ganhou o prêmio de primeiro lugar . Eleita pelas palmas do público, que se concentrava na frente da rádio, levou pra casa um sabonete eucalol. Era o início de uma carreira que comemora meio século divulgando os ritmos nordestinos genericamente chamados de forró.

Fosse o baião simbolizado pelo triângulo e , sem dúvida, Marinês seria o vértice, tendo Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga na base. Coroada pelo velho Lua Rainha do Xaxado, Marinês é o ''último mito vivo da música nordestina", como gosta de frizar, sua voz possante e cristalina, como água limpa de serra abaixo ainda se preserva e supreende como no último CD "50 anos de forró" em que emparelha o gogó com mais treze discípulos. divididos.

As músicas que mais atraiam a sua atenção eram os sucessos do Rei do Baião, divulgadas pelo altos falantes em postes das difusoras de Campina Grande. Qui nem Jiló, Respeita Januário, Xanduzinha, No Ceará não Tem disso não e Asa Branca, eram apenas algumas músicas que ela já sabia de cor por lhe tocarem a alma de sertaneja.

A primeira vez que viu seu Luiz, influência capital no desenvolvimento de seu estilo foi em 1950 , comício para escolha do Governador da Paraíba. Luiz Gonzaga estava animando o comício do candidato Argemiro de Figueiredo e do candidato a senador pela UDN Pereira Lyra, que encomendaram a ele e a Humberto Teixeira a música da campanha, chamada "Paraíba", hoje considerado uma espécie de segundo hino do estado.

Nesta mesma época, Maria Inês ingressa no ginásio no Colégio das Damas, frequentado pela classe média local. Sua estada por lá não iria durar muito. Ainda no primeiro ano largaria os estudos. Motivo: a velha falta de dinheiro. Não tirou por menos, sabedora do seu potencial vocal, se engajou na Voz da Democracia, no bairro da Liberdade.

e logo estava no papel de locutora. Passou depois para a difusora A Voz de Campina Grande. Só ia entretanto adentrar o mundo da música profissional em 1951, quando pelas mãos do compositor Rosil Cavalcanti (Sebastiana) , e do Diretor da Rádio Cariri, Arnaldo Leão, assinou contrato se integrando ao time da rádio. Debutou com o bolero Dez anos, número integrante do seu repertório romântico.

Sempre chamando atenção pelo seu canto afinado e pujante, atraiu a atenção dos diretores da Rádio Borborema, que a contrata para os seus programas de auditório em 1952. No mesmo ano contratariam o sanfoneiro paraibano Abdias Farias. Começam a namorar e após pedir permissão aos pais da moça , o talento da consertina se casa com a Maria Bonita do Forró ,dois anos depois. Cerimônia simples, só parentes e mais uns chegados.

Rescindem contrato com a Rádio Borborema e recebem em seguida convite para integrar o cast da Rádio Difusora de Alagoas- RDA- antigo lar artístico de Abdias. Foi preparada toda uma festança para a estréia do casal. Desde o programa de estréia Marinês roubou as atenções, castigando seu triângulo, xaxando que nem uma carrapeta. A apresentadora os batizaria como o "Casal da Alegria".

Começaram a fazer alguns shows pelo interior do estado e a fama do casal começou a reverberar por outras praças nordestinas.

De Fortaleza surgiu um convite para trabalhar na Rádio Iracema, onde as condições empregatícias eram melhores. Lá encontraram o terceiro elemento, que iria fechar um formato pronto a ganhar o país.

O zabumbeiro Cacau, que tinha tocado com Luiz Gonzaga no começo dos anos 50, estava em Fortaleza "por acaso", procurando emprego onde pudesse martelar sua zabumba.

Abdias vislumbrou logo a possibilidade de montar um trio de forró, tocando repertório de Jackson do Pandeiro e de Luiz Gonzaga. Ele afunfando o fole, Marinês tilintando seu triângulo e Cacau castigando a zabumba .

Com repertório afiado, zarparam na lapa do mundo, tocavam em bibocas, cinemas , circos, alugavam armazéns e iam disseminando o novo ritmo criado por Gonzaga. Este, por sua vez, ia tendo notícia aqui e alí de um trio que tocava suas músicas: "a moça é uma Gonzaga de Saias", diziam.

"O primeiro encontro, acontecido em 1955, é narrado por Marinês: " Foi quando eu fiz um show em Propriá (Sergipe) e Pedro Chaves, o prefeito na ocasião, apaixonado por Luiz Gonzaga , ofereceu um busto na praça. Eu e meu marido dissemos que tínhamos muita vontade de conhecê-lo pessoalmente. Ele, então, nos contrata para fazer um show justamente no dia que Gonzaga ia inaugurar a Praça. Ele nos botou num apartamento junto do apartamento do Gonzaga, porta com porta. Quando chegamnos lá, Luiz Gonzaga já estava sabendo que tinha essa cangaceirinha, como ele me chamava, cantando as músicas dele. Quando o Pedro Chaves disse: a Marinês está aí. Ele bateu em nossa porta e disse: -Vocês são meus convidados para comer comigo na mesa. Eu tremia, nem comi direito, nervosa com o impacto da presença, uma coisa que eu sonhava. Almoçamos e ele disse: eu vou lhe ensinar a dançar xaxado porque eu estou precisando de uma rainha do xaxado. Tenho a princesinha do baião, que era Claudete. Aí ele foi dançar comigo", recorda.

Após a apresentação Gonzaga prometeu dar uma força à Patrulha de Choque, acenando com canais abertos em rádios e gravadoras. no Rio , onde morava. Em março de 1956 a trupe chegou no Rio e se hospedou na casa de Helena Gonzaga, madame baião, e do rei. Apadrinhados desde o encontro em Sergipe, Gonzaga saiu a apresentá-los nos programas na Rádio Mayrink Veiga - onde coroou em terras do Sul oficialmente a Rainha do Xaxado. Tocaram também nas rádios Nacional e Tupi.

Depois de divulgá-los, o cantor de Asa Branca destitue a Tropa e os incorpora à sua nova produção: "Luiz Gonzaga e Seus Cabras da Peste". Abdias ia pro agogô - só tocava sanfonaquando luiz dançava - Zito Borbortema no pandeiro, Marinês no triângulo e Miudinho na zabumba.

Neste ano Marinês registrava em disco sua voz pela priemira vez, na faixa Mané e Zabé, de Gonzaga. O novo grupo partiria para uma excursão à capital meneira para celebrar o aniversário de uma emissora associada. Na volta, ogrupo teve que enfrentar o ciúme de Helena Gonzaga que exigiu ao rei a dissolução do grupo.

No começo de 1957 Marinês se apresentou no programa Rancho Alegre , da rádio Tupi. Antes de entrarem em cena o apresentador Chacrinha apontou para cacau e Abdias e perguntou a cantora :
- Quem são esses aí ?
- É minha gente, explicou.
De bate-pronto o velho guerreiro anunciou: Marinês e sua gente. A partir de hoje você vai ser Marinês e sua gente. No ano seguinte sua grande chance...

Em 1999 o CD comemorativo dos 50 anos de carreira da cantora, "Marinês e Sua Gente", foi produzido por Elba Ramalho e contou com a participação de Lenine, Dominguinhos, Genival Lacerda, Chico César, Geraldo Azevedo, Antônio Barros (e Cecéu), Moraes Moreira, Alceu Valença, Zé Ramalho, Marco Farias, Margareth Menezes e Ney Matogrosso interpretando sucessos de forró como "Forró do Beliscão", "Coco da Mãe do Mar", "Meu Cariri", "Lamento Sertanejo", "A Noite Toda", "Forró das Comadre" e outros.

Sua discografia contabiliza cerca de trinta discos.

Marinês sofreu um acidente vascular cerebral no dia 5/11/2007 e morreu às 9:45 h do dia 14. O primeiro derrame aconteceu no sábado, dia 5, e provocou paralisia do lado esquerdo do corpo. Ela também teve dificuldades para falar. A artista passou por fisioterapia e tratamento com remédios. Para os médicos, a morte de Marinês foi inesperada. Ela havia apresentado melhoras nas condições de saúde. No domingo (13), recebeu visita de vários familiares e amigos, inclusive do cantor Genival Lacerda. Ela sofreu o segundo AVC durante a madrugada do dia 14 e entrou em coma profundo. A artista de 71 anos estava internada no Hospital Português, em Recife, onde se recuperava após sofrer o AVC em Caruaru.

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