segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Bob Nelson

(Campinas/SP, 12 de outubro de 1918 ******* Rio de Janeiro/RJ, 28 de agosto de 2009)

O cantor Nelson Roberto Perez, mais conhecido como Bob Nelson,nasceu em Campinas. Na cidade, estudou para ser ferroviário, como o pai, mas se recusou a seguir a profissão por muito tempo. No lugar disso, tentou a vida na capital paulista, em 1944, com a ajuda da irmã, Dalva, participando de programas de calouros.

Era o 6º dos oito filhos de José Perez, espanhol, ferroviário da Mogiana e dono do Hotel Dalva, e de D. Floresmina. Fez o grupo escolar que funcionava em anexo à Escola Normal e formou-se contador na Escola de Comércio São Luiz. Em sua família só ele teria pendores artísticos.

Com 11 anos já trabalhava no comércio. Depois entrou na Mogiana, apenas para atender ao desejo do pai. Foi contador da Armour e caixeiro-viajante.

Iniciou-se como crooner da Orquestra Julinho e cantor-solista do Grupo Cacique, que apresentava na Rádio Educadora de campinas (PRC-9), nas pegadas do Bando da Lua e dos Anjos do Inferno, e era formado, além dele, por Paulinho Nogueira e seu irmão Celso, Armando do Couto, primo dos dois e médico, Aimoré dos Santos Matos, oficial, e pelo professor Enéas. Quando Carmen Miranda se apresentou em Campinas, em 1939, lá estavam eles acompanhando a Pequena Notável.

Uma noite, depois de assistir ao filme "Idílio Nos Alpes", no Cine Rink, na rua Barão de Jaguara, por brincadeira, começou a se comunicar com um amigo à maneira das montanhas do Tirol, como o cowboy-cantor Gene Autry, com menos perfeição, já vinha fazendo. Aquilo fez vibrar as mocinhas que passavam.

Durante a semana, para viver percorria a Central do Brasil como vendedor das meias Ethel, que ninguém comprava devido o preço. Uma noite, em Taubaté, cantou no serviço de alto-falante uma adaptação que tinha feito de "Ó Suzana". Agradou demais e foi estimulado a ir à Hora da Peneira Rodine, na Rádio Cultura de São Paulo. Foi com o amigo Paulo, que ficou com o 2º lugar, com "Lábios Que Beijei", e ele, com "Ó Suzana", com o 1º, repartindo entre si, conforme o combinado, os prêmios, 100 e 50 cruzeiros respectivamente, ou seja, 75 para cada um. Resolveu ficar por São Paulo, tornando-se um "calouro profissional". Cantando sempre "Ó Suzana", no programa Calouros do Chá Ribeira, na Rádio Tupi, o diretor Dermival Costalima o contratou a 300 cruzeiros por mês.

Numa reunião de diretores, ficou decidido que Nelson Perez positivamente não era nome de cowboy. Um diretor, folheando uma revista de cinema, dá com o nome de Robert (Bob) Taylor, grande galã da época. Costalima tem o estalo: "Bob Nelson!".

Nessa ocasião, Assis Chateaubriand, todo-poderoso dono das Associadas, estava empenhado em homenagear, na Tupi, o oficial-comandante americano do Atlântico Sul. Teve uma de suas idéias: "Rapaz, pegue este dinheiro, vá à loja Sloper e compre uma roupa completa de cowboy. E cante Suzana, pois o homem é do Texas!"
"- O americano gostou tanto que subiu no palco para abraçar. Ele era muito alto. Abracei ele no joelho!"

Com um repertório ampliado, nesse mesmo ano de 1943, atuou no Cassino Ahú, de Curitiba, a 300 cruzeiros por noite. A seguir fez todo o circuito das bases militares, até Natal e Fernando de Noronha. Na volta, Ziembinski o convidou para ir ao Rio de Janeiro, onde atuou na Rádio Tupi e no Cassino Atlântico, a 500 cruzeiros por noite, com mais sucesso até que Gregório Barrios e Libertad Lamarque.

Como a Tupi ficasse em atraso de pagamento por quatro meses, tentou leiloar nos corredores, com colegas, seus vales e foi expulso pelo diretor. Assis Chateaubriand, que o chamava de "cowboy sem cavalo", chegou pouco depois e deu-lhe razão: "Atrasou, não pagou, faz leilão dessa porcaria!"

Haroldo Barbosa sem demora o recomendou a Victor Costa, diretor da Nacional. Mesmo já sabendo de seu sucesso, quis testá-lo num programa de auditório. Não deu outra: contrato imediato.

Daí em diante o Vaqueiro Alegre, seu slogan, fez-se astro do disco e da Rádio Nacional, emendando um sucesso após outro. O Brasil também o conheceu através do cinema: "Este Mundo É Um Pandeiro" (1946), "Segura Essa Mulher" (1946), "É Com Este Que Eu Vou" (1948), no qual canta "Como É Burro O meu Cavalo!", e "Estou Ai?" (1949). Muito depois, em 1970, fez papel de padre em "Vale do Canaã", sob a direção de Jece Valadão.

Casou-se com Antonietta Leal Perez, em 1950, e teve dois filhos, Nelson Roberto e Eduardo José, e dois netos, Luciana Antonela e Victor Eduardo.

Deixando de cantar, continuou na Rádio Nacional, como secretário do departamento jurídico e diretor do departamento de gravações. Na Nacional aposentou-se em 1976, depois de 26 anos ininterruptos de trabalho na estação.

Jamais parou, contudo, de trabalhar. Tornou-se representante de produtos ópticos, percorrendo todo o Brasil para promover as vendas, e sempre disposto a se apresentar artisticamente, com a mesma disposição e a mesma capacidade de conquistar qualquer platéia.

Em recente entrevista, Bob Nelson afirmou que a primeira coisa que comprou com o dinheiro que ganhou cantando foi um maço de cigarros.

Era apaixonado pela escola de samba, do Rio de Janeiro, Império Serrano. Desde os anos 50 desfilava pela escola. constantemente acompanhado pela atriz, e também Imperiana, Mirian Pérsia.

No auge da carreira, quando já fazia a mistura do caipira com o country, Bob Nelson chegou a compor músicas para Luiz Gonzaga. Sua importância musical foi homenageada por Erasmo e Roberto Carlos, com a canção "A Lenda de Bob Nelson".

O músico continuou a fazer shows até chegar aos 90 anos. Em entrevista recente, ele disse que "não conseguiria parar até morrer."

Bob Nelson morreu aos 90 anos vitimado por um câncer e complicações pulmonares. O corpo do cantor foi enterrado no cemitério São João Batista, no Rio.

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