segunda-feira, 26 de novembro de 2012

César de Alencar

(Porto Alegre, 17 de março de 1945 — São Paulo, 19 de janeiro de 1982)

Elis Regina Carvalho Costa nasceu em Porto Alegre, em 17 de março de 1945.

Começou a carreira como cantora, aos onze anos de idade, em um programa de rádio para crianças chamado "O Clube do Guri", na Rádio Farroupilha, apresentado por Ari Rego.

Em 1959, foi contratada pela Rádio Gaúcha, e, em 1961, viajou ao Rio de Janeiro, onde gravou o primeiro disco, "Viva a Brotolândia". Lançou ainda mais três discos enquanto morava em Porto Alegre.

Em 1964, um ano com a agenda lotada de espetáculos no eixo Rio-São Paulo, assinou um contrato com a TV Rio para participar do programa "Noites de Gala"; é levada por Dom Um Romão para o Beco das Garrafas sob a direção da dupla Luís Carlos Miéle e Ronaldo Bôscoli, com os quais ainda realizaria diversas parcerias, e um casamento com Bôscoli em 1967. Acompanhada agora pelo grupo Copa trio, de Dom Um, canta no Beco das Garrafas, o reduto onde nasceu a Bossa Nova. Conhece o coreógrafo americano Lennie Dale, que a ensinou a mexer o corpo para cantar, tirando aquele nado que ela tinha com os braços.

Participa do espetáculo "Fino da Bossa", organizado pelo Centro Acadêmico da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, que ficou conhecido também como Primeiro Demti-Samba, dirigido por Walter Silva, no Teatro Paramount, atual Teatro Abril (São Paulo). Ao final do mesmo ano (1964) conhece o produtor Solano Ribeiro, idealizador e executor dos festivais de MPB da Tv Record. Um ano glorioso, que ainda traria a proposta de apresentar o programa "O Fino da Bossa", ao lado de Jair Rodrigues. O programa, gravado a partir dos espetáculos e dirigido por Walter Silva, ficou no ar até 1967 (TV Record, Canal 7, SP) e originou três discos de grande sucesso: um deles, "Dois na Bossa", foi o primeiro disco brasileiro a vender um milhão de cópias.

O estilo musical interpretado ao longo da carreira percorria assim o "fino da bossa nova", firmando-se como uma das maiores referências vocais deste gênero. Aos poucos, o estilo MPB, pautado por um hibridismo ainda mais urbano e 'popularesco' que a bossa nova, distanciando-se das raízes do jazz americano, seria mais um estilo explorado.

A antológica interpretação de "Arrastão" (Edu Lobo e Vinícius de Moraes), no Festival de Música Popular Brasileira, escreveu um novo capítulo na história da música brasileira, inaugurando a MPB e apresentando uma Elis ousada. Uma interpretação inesquecível, encenada pouco depois de completar apenas 20 anos de idade e brindada com o reconhecimento do Prêmio "Berimbau de Ouro". O prêmio "Roquette Pinto" veio na sequência elegendo-a a Melhor cantora do ano.

Já no samba consagrou "Tiro ao Álvaro" e "Iracema" (Adoniran Barbosa), entre outros. Ainda que o ecletismo fosse um marco do repertório, não pode ser definida, em termos vocálicos, como uma cantora versátil porque o registro vocálico pouco ou nada variava. Elis seria antes um talento que transcende estilos: as canções se adaptavam a ela e não ela às canções. E nisso consisitiu o ineditismo, a originalidade, que tanto arrebatou o público: independentemente do estilo interpretado notabilizou-se pela uniformidade vocal, primazia técnica e uma afinação a toda prova. Seu registro vocálico pode ser definido como de um mezzo-soprano característico com um fundo levemente metálico e vagamente rouco.

Fã incondicional de Carmen Miranda, a quem prestou várias homenagens, Elis impulsionava uma carreira não menos gloriosa, possibilitando o lançamento do primeiro LP individual, "Samba Eu Canto Assim" (Cbd, selo Philips). Pioneira, em 1966 lançou o selo Artistas, regsitrando o primeiro disco independente produzido no Brasil, intitulado "Viva o Festival da Música Popular Brasileira", gravado durante o festival. Mais uma vitoriosa participação no III Festival de Música Popular Brasileira (TV Record), a canção "O Cantador" (Dori Caymmi e Nelson Motta), classificando-se para a finalíssima e reconhecida com o prêmio de Melhor Intérprete.

Em 1968, uma viagem à Europa a lança no eixo musical internacional, conquistando grande sucesso, principalmente no Olympia de Paris, onde se tornou a primeira artista a se apresentar lá duas vezes no mesmo ano.

Durante os anos 70, aprimorou constantemente a técnica e domínio vocal, registrando em discos de grande qualidade técnica parte do melhor da sua geração de músicos.

Patrocinada pela Philips na mostra "Phono 73", com vários outros artistas, deparou-se com uma platéia fria e indiferente, distância quebrada com a calorosa apresentação de Caetano Veloso: "Respeitem a maior cantora desta terra". Em julho lançou Elis.

Em 1975, com o espetáculo "Falso Brilhante", que mais tarde originou um disco homônimo, atinge enorme sucesso, ficando mais de um ano em cartaz e realizando quase 300 apresentações. Um dos mais bem sucedidos espetáculos na história da MPB, tornou-se um marco definitivo da carreira. Ainda teve grande êxito com o espetáculo "Transversal do Tempo", em 1978, de um clima extremamente político e tenso; o "Saudades do Brasil", em 1980, sucesso de crítica e público pela originalidade, tanto nas canções quanto nos números com dançarinos amadores e, finalmente o último espetáculo, "Trem Azul", em 1981.

Desde a década de 1960, quando surgiram os especiais do Festival de Música Popular Brasileira (TV Record), até o final da década de 1980, a televisão brasileira foi marcada pelo sucesso dos espetáculos transmitidos; apresentando os novos talentos da MPB, registravam índices recordes de audiência. Elis Regina participou do especial Mulher 80 (Rede Globo), um desses momentos marcantes da televisão. O programa exibiu uma série de entrevistas e musicais cujo tema era a Mulher e a discussão do papel feminino na sociedade de então, abordando esta temática no contexto da música nacional e da inegável preponderância das vozes femininas na MPB; com Maria Bethânia, Fafá de Belém, Zezé Motta, Marina Lima, Simone, Rita Lee, Joanna, Elis Regina, Gal Costa e as participações especiais das atrizes Regina Duarte e Narjara Turetta, que protagonizaram o seriado Malu Mulher.

Foi Elis quem também lançou boa parte dos compositores até então desconhecidos, como Milton Nascimento, Renato Teixeira, Gilberto Gil, João Bosco e Aldir Blanc, Sueli Costa, entre outros. Seu grande admirador, Milton Nascimento, a elegeu musa inspiradora e a ela dedicou inúmeras composições.

Dentre as dezenas de sucessos consagrados, estão: Arrastão, Canção do Sal, Casa no Campo, Fascinação, Maria Maria, Cartomante, Corcovado, O Bêbado e o Equilibrista, Aquarela do Brasil, Águas de Março, Retrato em Preto e Branco, Alô, Alô, Marciano, Chega de Saudade, Carolina, Dinorah, Dinorah, Canção da América, Travessia, Saudosa Maloca, Me deixas Louca, Garota de Ipanema, Aviso aos Navegantes, Folhas Secas, Tiro ao Álvaro, Iracema, Aquele Abraço, Como Nossos Pais, Doente Morena, Ensaio Geral, Fechado pra Balanço, Ladeira da Preguiça, Louvação, No Dia Em Que Eu Vim Me Embora, Meio de Campo, O Compositor Me Disse, Gracias a la Vida, Oriente, Rebento, Roda, Se Eu Quiser Falar Com Deus, Viramundo, dentre muitos outros.
Elis Regina criticou muitas vezes a ditadura brasileira, os difíceis Anos de Chumbo que perseguiu e exilou muitos músicos em sua época, seja por meio de declarações públicas ou pelas canções que interpretava.

Sua popularidade a manteve fora da prisão, mas foi obrigada pelas autoridades a cantar o Hino Nacional durante um espetáculo em um estádio, fato que despertou a ira da esquerda brasileira.

Sempre engajada politicamente, Elis participou de uma série de movimentos de renovação política e cultural brasileira, destacando a Marcha contra as Guitarras, ainda nos anos 60, ao lado de artistas como Gilberto Gil e outros. Ainda participou ativamente da campanha pela Anistia de exilados brasileiros. O despertar de uma postura artística engajada e com excelente repercussão acompanharia toda a carreira, sendo enfatizada por interpretações consagradas de O Bêbado e o Equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc), a qual vibrava como o hino da anistia. A canção coroou a volta de personalidades brasileiras do exílio, a partir de 1979. Um deles, citado na música, era o irmão do Henfil, o Betinho, importante sociólogo brasileiro.

Outra questão importante se refere ao direito dos músicos brasileiros, polêmica que Elis encabeçou, participando de muitas reuniões em Brasília. Além disso, foi presidente da Assim, Associação de Intérpretes e de Músicos.

Em meio a uma grande comoção nacional, faleceu aos 36 anos de idade em 19 de janeiro de 1982, devido a complicações decorrentes de uma overdose de drogas, tranquilizantes e bebida alcoólica. Foi sepultada no Cemitério do Morumbi.

Elis é mãe de João Marcelo Bôscoli, filho do casamento com o músico Ronaldo Bôscoli, e de Pedro Camargo Mariano e Maria Rita, filhos do pianista César Camargo Mariano. Os três também têm carreira musical.

Fontes : Sites Wikipédia, Ovadia Saadia

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