segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Helena de Carvalho

(São Paulo/SP, 5 de outubro de 1908 ------- São Paulo/SP, 5 de dezembro de 1937)

Helena Pinto de Carvalho ou simplesmente, Helena de Carvalho, foi funcionária pública, tendo trabalhado na Secretaria das Municipalidades de São Paulo.

Nascida em berço de ouro, filha de um conde carioca, Helena de Carvalho possuía todos os indicativos para ser apenas uma figura de destaque da sociedade de São Paulo. Ao invés disso marcou, em sua curta existência, seu nome na história Música Popular Brasileira e nos filmes musicais; tudo isso com o incentivo de seu esposo, um bem sucedido engenheiro.

Segundo entrevistas com parentes da cantora, “desde criança sentia vontade de cantar, era extrovertida, alegre, culta, amava a arte e cantava somente em casa em reuniões familiares”.

Em 1927, aos 19 anos, casou-se com o engenheiro Paulo Pinto de Carvalho, que tinha 34 anos. Paulo se mostraria um homem sem preconceitos e a frente de seu tempo, pois, iria incentivar sua esposa a abraçar a carreira artística.

Começou a carreira em 1929 cantando no rádio. Em 1930, gravou seu primeiro disco, pela Victor, cantando o samba-canção "Teus olhos me contam tudo"(G. Viotti, XYZ e J. Canuto) e o samba "Morena cor de canela" (Ari Kerner V. de Castro). No mesmo ano, gravou de Chiquinha Gonzaga e Viriato Corrêa o samba-canção "Fogo foguinho", e as canções "Sou morena" e "Chinelinha do meu amor", músicas lançadas em CD pela gravadora Revivendo no álbum duplo "Chiquinha Gonzaga - A Maestrina".

Dominava bem os sambas e marchinhas que interpretava. Basta ouvirmos “Num sorriso dos teus”, samba canção de Napoleão Tavares e Jayme Redondo, que teremos sua interpretação destilando romantismo e uma sutil sensualidade; “Sou morena”, Canção de Chiquinha Gonzaga e Viriato Correa, onde ela é brejeira e sedutora ou em “Nhá Carola”, marcha de Petit (Hudson Gaya) que, ao lado do cantor Pilé, encarna a caipira engraçada que busca casamento, mas finge desdenhar do seu amado.
Em todas as músicas a cantora imprimia uma interpretação romântica, mesmo em estilos diferentes.

Em 1931 participou do filme "Coisas nossas", o primeiro filme sonoro produzido no Brasil, atuando ao lado de Stefana de Macedo, Zezé Lara, Batista Jr, Procópio Ferreira e outros nomes da época. E cabe a ela ser a primeira cantora a aparecer no filme, sendo apresentada pelo poeta Guilherme de Almeida. Acompanhada ao piano canta, de seu repertório, a toada “Esse jeitinho que Você Tem”, de Marcello Tupinambá, com um ritmo mais lento, mais romântico.

Perguntada sobre a experiência de representar para uma câmera, a cantora respondeu: “Fiquei nervosíssima”.
Sobre o futuro: “Eu não alimento programas no meu cérebro. Em todo caso, se meu trabalho agradar e a fabrica novamente me chamar, não tenho motivos para recusar o convite. A arte é uma coisa tão linda”.

Em relação ao futuro do cinema brasileiro, afirmou que acreditava em “um futuro brilhante para o cinema nacional. É claro que não são nas capitais, cuja gente muito ‘rafineé’ e cheia de historias, há de sempre encontrar aqui ou ali um senão para criticar. Mas como o Brasil não é formado pelas capitais e sim, ele é todo esse aglomerado quase infinito de vilas e cidadezinhas, que se espalham do Amazonas ao rio Grande do Sul, eu creio que não exagerei, se disser que tenho certeza do triunfo da nossa cinematografia”.

Helena afirmou que o canto sempre foi um de seus maiores prazeres, principalmente a canção brasileira.

Sua participação nos rádios continuou. Nos anos seguintes, ficou mais escassa por conta de excursões artísticas pelo Brasil e, segundo o pesquisador Abel Cardoso Junior, Europa. Aliando suas atividades artísticas, trabalhava como funcionária pública ao lado do marido como chefes na Seção Contabilidade e Departamento de Municipalidades de São Paulo.

Durante muitas décadas, pouco ou nada se soube sobre Helena. Em 1988 a empresa Revivendo, situada em Curitiba e especializada em relançar gravações de nomes da MPB da Época de Ouro, lançou o LP intitulado “Jóias de Nossa Música” enfocando Mário Reis, Moreira da Silva, Sônia Carvalho e Helena Pinto de Carvalho. Dos três nomes, somente Helena deixava uma lacuna sobre seu paradeiro. O próprio organizador das biografias contidas no disco, Abel Cardoso Junior, desconhecia onde ela estaria. Essa curiosidade foi desfeita mais de vinte anos depois, quando a jovem pesquisadora Thais Matarazzo, de São Paulo, resolveu pesquisar sobre as cantoras dos anos 30. A descoberta do paradeiro da cantora veio acompanhada de uma surpresa.

No dia 5 de dezembro de 1937, um domingo, às 23 horas, Helena sentiu-se mal. Segundo Vera, sua sobrinha que na ocasião contava com 11 anos e se encontrava em sua casa, em entrevista à Thais quase 60 anos depois, afirmou que sua tia deu um grito muito alto e foi encontrada deitada na cama, já morta. Mais surpreendente foi a causa: enfarte fulminante. Ela tinha 29 anos.

Embora os jornais tivessem lamentado a perda de um nome de peso do radio paulistano, integrante do elenco da Rádio Cultura, seu nome foi sendo esquecido através dos anos, devido a pouca memória de nosso país.

Assim como Yolanda Osório e Ita Cayubi, Helena Pinto de Carvalho foi uma das promessas lançadas em disco no longínquo ano de 1930. Como suas colegas, não decepcionou. Teve, até, mais sorte que muitas dela, uma vez que o esposo era seu fã numero um e grande incentivador, ao contrário dos demais conjugues da época, que “aposentavam” suas esposas da carreira artística através do casamento. Poderia ter sido uma socialite dos dourados anos 30, usando o título de nobreza de seu pai. Ao contrário, abraçou o samba e a marchinha e fez do cateretê, sua canção favorita; ritmos que ela tão bem dominou e interpretou seja nas capitais ou nas cidades do interior, pelo país afora. E sempre se negando a cantar estilos estrangeiros, numa valorização à música popular brasileira.

Na leva de jovens e modernas cantoras que a safra de 1930 lançou, e que foi liderada pela iniciante Carmen Miranda, Helena saiu-se de forma notável.

Entre outras rádios, atuou na Rádio Cultura de São Paulo, cantando três vezes por semana. Gravou um total de seis discos com 12 músicas pela Victor e Columbia.

Fonte: Site Cantoras do Brasil e Blog Estrelas que nunca se apagam.

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