(Rio de Janeiro/RJ, em 19/5/1929 **** Santo André/SP, em 4/3/2010)
Cantor, compositor e pianista inovador reconhecido como um dos precursores da bossa nova. Autor de clássicos da música brasileira, como "Eu e a Brisa" e "Rapaz de Bem", o músico influenciou artistas como Tom Jobim e João Donato
Alfredo José da Silva nasceu em 19 de maio de 1929, no Rio de Janeiro.
Seu pai, cabo do Exercito, morreu em 1932 e a mãe foi trabalhar na casa de uma família que o criou e custeou seus estudos. Começou a aprender piano clássico aos nove anos, com Geni Borges, amiga da família, logo demonstrando interesse por compositores do cinema norte-americano, como George Gershwin e Cole Porter.
Por volta dos 14 anos, formou um conjunto com amigos em Vila Isabel, indo tocar nos fins de semana na Praça Sete, do Andaraí. Cursou até o segundo ano do Colégio Pedro II, onde entrou em contato com o pessoal do Instituto Brasil-Estados Unidos que o convidou para participar de um grupo artístico.
Por sugestão de uma amiga norte-americana, adotou o pseudônimo de Johnny Alf, quando de sua apresentação no programa de jazz de Paulo Santos, na Radio MEC.
Johnny Alf trabalhou no escritório de contabilidade da Estrada de Ferro Leopoldina, onde aproveitava os momentos livres no horário de serviço para escrever musica.
Com o grupo do Instituto Brasil-Estados Unidos fundou um clube para promoção e intercâmbio de musica brasileira e norte-americana que realizava sessões semanais para analisar orquestrações, solos etc., além de apresentar filmes, shows, concertos de jazz, entre outras atividades.
Quando Dick Farney, já profissional e recém-chegado dos EUA, ingressou no grupo em 1949, o clube passou a chamar-se Sinatra-Farney Fan Club, tendo entre seus sócios Tom Jobim, Nora Ney e Luís Bonfá, entre outros, ainda principiantes. Na época, tocava durante a noite no clube e pela manha assumia seu posto de cabo no Exercito.
Através de Dick Farney e Nora Ney, Johnny Alf foi contratado em 1952 como pianista da recém-inaugurada Cantina do César, de propriedade do radialista e apresentador César de Alencar, dando inicio a sua carreira profissional. Ali a atriz Mary Gonçalves, que tinha sido Rainha do Radio em 1952 e ia lançar-se como cantora, escolheu três composições suas, "Estamos Sós", "O que é Amar" e "Escuta" para incluir no seu LP "Convite ao Romance". Em seguida, foi convidado para integrar como pianista o conjunto que o violonista Fafá Lemos formou para tocar na boate Monte Carlo. Nessa época, a convite do produtor Ramalho Neto, gravou na Sinter seu primeiro disco, um 78 rpm com musica instrumental (piano, contrabaixo e violão) de influencia jazzística, com "Falsete", de sua autoria, e "De Cigarro em Cigarro" (de Luís Bonfá). Mais tarde, revezando-se com o pianista Newton Mendonça, tocou na boate Mandarim, indo depois para o Clube da Chave, boates Drink e Plaza.
De seu repertório, duas composições começaram a se destacar, "Céu e Mar" e "Rapaz de Bem", essa escrita por volta de 1953 e considerada, em termos melódicos e harmônicos, como música revolucionária e precursora da bossa nova.
Em 1955, Johnny Alf foi para São Paulo SP, onde tocou na boate Baiuca e no bar Michel, nesse ultimo com os então iniciantes Paulinho Nogueira, Sabá e Luís Chaves. De passagem pelo Rio de Janeiro, no mesmo ano gravou na Copacabana o primeiro 78 rpm importante de sua carreira, com "Rapaz de Bem" e "O Tempo e o Vento", também de sua autoria. Seis anos depois, gravou na RCA seu primeiro LP, "Rapaz de Bem", que incluía, entre outras, "Ilusão à Toa", que também se tornou um grande êxito. Ainda em 1961, recebeu convite do compositor Chico Feitosa para tocar no Carnegie Hall, em New York, EUA, mas não viajou, permanecendo em São Paulo. No ano seguinte, retornou ao Rio de Janeiro, tocando no Bottle’s Bar, na mesma época em que ali atuavam o Tamba Trio, Sérgio Mendes, Luís Carlos Vinhas e Silvia Teles.
Formou, também, um conjunto com o baixista Tião Neto e o baterista Edison Machado, apresentando-se no Little Club e Top Club.
A partir de 1965, Johnny Alf realizou várias apresentações no interior de São Paulo. Foi também professor de musica do Conservatório Meireles, de São Paulo.
Em 1967, participou do III FMPB, da TV Record, de São Paulo, com a música "Eu e a Brisa", interpretada pela cantora Márcia. A composição foi desclassificada nas eliminatórias, convertendo-se porém, um mês depois, num dos maiores sucessos de sua carreira. A essa música seguiram-se "Decisão" e "Garota da Minha Cidade", que representam o estilo mais exteriorizado e desinibido de sua obra. Sua composição "Rapaz de Bem "foi gravada, no exterior, por Lalo Schifrin. Gravou ele próprio mais dois LPs, Ele e Johnny Alf, na Parlophon, em 197l, e Nós, na Odeon, em 1974. O primeiro incluía "Decisão" e "Garota da Minha Cidade", além de "Eh, Mundo Bom Taí" e "Anabela", ambas também de sua autoria. No segundo, incluiu suas composições "O que é Amar", "Nós", "Plenilúnio" e o samba de Egberto Gismonti e Paulo César Pinheiro "Saudações".
Radicado em São Paulo, Johnny Alf continuou compondo e fazendo shows em casas noturnas, além de gravar ocasionalmente. Um de seus últimos discos, "Olhos Negros", contou com participações de Chico Buarque, Roberto Menescal, Leny Andrade e outros, e reúne sucessos antigos com composições novas como "Olhos Negros" e "Nossa Festa".
Em janeiro de 1998, depois de sete anos sem gravar, apresentou-se no SESC Pompéia, São Paulo, em "A Rosa do Samba", show de lançamento do CD "Noel Rosa – Letra e Música" (selo Lumiar), que inclui sua composição "Noel, Rosa do Samba" (com Paulo César Pinheiro).
Johnny Alf morreu no dia 04 de março de 2010. Ele estava internado em estado grave no hospital Mário Covas, em Santo André, na Grande São Paulo. Ele tinha 80 anos.
Johnny tratava um câncer de próstata há cerca de três anos na instituição. Sem parentes próximos, ele vivia em uma casa de repouso na cidade.
Segundo o empresário do cantor, Nelson Valencia, a metástase tinha avançado e os médicos haviam avisado que não havia mais nada que pudesse ser feito.
Uma das últimas aparições de destaque do pianista aconteceu na exposição “Bossa na Oca”, em São Paulo, em 2008. Na mostra que homenageava os 50 anos do estilo musical que projetou o Brasil mundialmente, Alf teve um encontro virtual com nomes como Tom Jobim, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald e Stan Getz. O artista tocava piano com as projeções dos colegas, já mortos, para um filme que foi exibido ao longo do evento.
“Ele ficou muito emocionado quando viu o resultado, os olhos encheram d´água”, conta o curador da exposição, Marcello Dantas. “Ele falava pouquinho, em decorrência de um derrame que havia sofrido pouco tempo antes. Mas o semblante dizia tudo, não era preciso palavras”.
Para o curador, Alf, que morreu sem deixar parentes e vivendo em um asilo na Grande São Paulo, foi desvalorizado pela memória do país. “É o caso clássico do artista que não teve o reconhecimento a altura de seu talento. E Alf foi um gênio, teve participação na história da nossa música”.
O empresário de Alf explicou que, mesmo após saber da doença, Alf continuou a fazer shows, ainda que ritmo reduzido. Até agosto de 2009 chegou a fazer algumas pequenas apresentações. Em maio de 2009, o compositor comemorou seus 80 anos com uma série de shows no Sesc Pinheiros, em São Paulo, ao lado de Alaíde Costa e Emílio Santiago.
Seu corpo foi velado teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.
Fontes: Sites M`PB Net, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Globo.
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