(Rio de Janeiro/RJ, 13-4-1918 ******** Rio de Janeiro, 9-7-1990)
Marília Monteiro de Barros Batista era filha do médico do Exército Renato Hugo Batista e da pianista Edith Monteiro de Barros Batista, tinha dois irmãos Renato e Henrique, também compositores. Herdeira de tradicional família da sociedade carioca, neta do poeta e Barão Luís Monteiro de Barros, mostrou, desde menina, seu interesse pela música.
Aos seis anos, "ganhou" o primeiro violão por acaso. O barbeiro da família, numa ida à sua casa para cortar os cabelos do pai e do irmão, esqueceu lá o seu instrumento. A menina não largou nunca mais o violão, que seria uma de suas eternas paixões. Aos oito anos, já compunha. Estudou no Instituto Nacional de Música (atual Escola de Música da UFRJ), onde formou-se em teoria, solfejo e harmonia, apesar de abandonar o curso de piano no 4º ano.
A 29 de agosto de 1930, com 12 anos, levada pelo jornalista Lauro Sarno Nunes (pai de Max Nunes), deu seu primeiro recital de violão no Cassino Beira-Mar, cantando entre canções sertanejas, sambas e cateretês, suas primeiras composições. Começou a estudar violão com Josué de Barros aos 12 anos, por iniciativa do próprio violonista, que depois de ficar encantado com o recital da menina fez questão de ministrar-lhe aulas de graça. Estudou com Josué durante seis meses, mas depois, como pretendia ser concertista passou a estudar violão clássico com o virtuose José Rebelo. Porém seu interesse pela música popular sempre foi mais forte.
Em 1931, com apenas 14 anos, foi convidada para cantar no espetáculo "Uma Hora de Arte", no Grêmio Esportivo Onze de Junho, onde conheceu Noel Rosa. Tornaram-se grandes amigos e até hoje Marília é considerada pelos historiadores da MPB como a intérprete favorita de Noel, ao lado de Aracy de Almeida. Ainda em 1931, em festa realizada na casa da cantora Elisinha Coelho conheceu grandes nomes da música popular da época como Maestro Heckel Tavares, o compositor Luís Peixoto, Almirante e o Bando dos Tangarás.
Em 1932, gravou seu primeiro disco, com composições suas em parceria com seu irmão Henrique Batista: o samba "Pedi, implorei" e a marcha "Me larga".
Em 1933, é convidada por Almirante para fazer parte do oitavo "Broadway Cocktail" (show que precedia o filme no Cine Broadway), ao lado de grandes nomes da música popular de então como Sílvio Caldas, Jorge Fernandes e Rogério Guimarães. O sucesso foi tanto que a jovem cantora recebeu convite de Ademar Casé para integrar o famoso "Programa Casé", na Rádio Phillips, com um contrato altíssimo para a época (45 mil-réis). No Programa Casé, em dupla com Noel Rosa, ficaram famosos os improvisos com o samba "De babado" ( Noel e João da Mina) e dos versinhos das propagandas de anunciantes do programa. Os improvisos, às vezes, chegavam a durar 10 minutos sem repetição de versos criados na hora por Marília e o parceiro Noel. Marília chegou a criar um prefixo para sua participação no programa: "Fala o Programa Casé!/ Veja se adivinha quem é.../ Faço a pergunta por troça/ pois todo mundo já conhece/ A garota da voz grossa.". Foi no programa que a cantora lançou o samba de Noel "Pela décima vez", em 1935. Neste ano, gravou com Noel Rosa o disco com o famoso samba "De babado" e com o samba "Cem mil-réis", de Noel e Vadico.
Um de seus passatempos favoritos era tricotar, atividade que exercia nos intervalos dos programas de rádio de que participava. Ainda em 1935, gravou novos discos com Noel, o primeiro, com "Provei", de Noel e Vadico e "Você vai se quiser", de Noel, pela Odeon (acompanhados pelo conjunto de Benedito Lacerda) e o segundo e último disco gravado por Noel, com "Quem ri melhor", samba de Noel e "Quantos beijos", de Noel e Vadico, pela RCA Victor. Nessa época, recebeu o título de "Princezinha do samba". Integrou o elenco da Rádio Nacional, desde a sua inauguração, em 12 de setembro de 1936.
Para a rádio, passou a fazer parte do grupo vocal As Três Marias, com o qual acompanhava cantores da emissora e que gravou alguns discos. Depois da morte de Noel Rosa, foi à Marília que D. Martha, a mãe do compositor, deu os manuscritos do filho. Marília entregou-os às mãos de Almirante, que os conservou cuidadosamente.
Em 1940, gravou pela RCA Victor o samba "Silêncio de um minuto", de Noel.
Em 1943, participou como integrante d´As Três Marias do filme "É proibido sonhar", do diretor Moacir Fenelon, cantando "São João", samba de José Carlos Burle.
Participou do programa de apresentação do novo programa de Almirante, em seu retorno à Rádio Nacional, em 14 de março de 1944.
No ano de 1945 casou-se e interrompeu por alguns anos suas atividades musicais, retornando à vida artística cinco anos depois, quando lançou pela Musidisc o LP " Samba e outras coisas", que reuniu as composições que fez com o irmão Henrique Batista - " Nunca mais", " Você não é feliz porque não quer", "Imitação", " Vai, eu te dou liberdade", " Praia da Gávea", " Vila dos meus amores" e mais duas composições de Noel Rosa.
Na década de 1950, algumas de suas músicas passaram a ser difundidas, entre elas "Praça Sete", gravada com sucesso por Elizeth Cardoso.
Em 1954, gravou um LP só com músicas de Noel Rosa, nele incluindo o samba Tipo zero.
No ano de 1963, Marília Batista gravou o LP duplo "História musical de Noel Rosa", pela Nilser, de Nilo Sérgio. Chegou a musicar dois versos de Noel Rosa, póstumamente, "Balão apagado"e "João Teimoso".
Em 1967 voltou a gravar sambas desse compositor. Ainda na década de 60, resolveu voltar a estudar e formou-se em Direito.
Em 1988, quando participou do projeto "Corcerto ao meio dia", no Teatro João Teotônio, entrevista musical conduzida por Ricardo Cravo Albin, chegou a ir às lágrimas com o tributo de aplausos que recebeu da platéia que superlotava o teatro. Deixou cerca de 30 registros gravados em 78 rpm e vários LPs.
Fonte: Cantoras do Brasil.
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