segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Waldir Calmon

(Rio Novo/MG, 30 de janeiro de 1919 — Rio de Janeiro, 11 abril de 1982)

Waldir Calmon Gomes foi um pianista e compositor brasileiro de grande sucesso nos anos 50.

Primeiro dos quatro filhos de Helena e Waldemar, Waldir teve uma infância pobre. Sua mãe ensinou música a todos os filhos, mas só Waldir demonstrou real interesse pela arte. Helena Calmon era uma menina rica que foi deserdada quando fugiu para se casar com Waldemar - um rapaz muito pobre. A partir daí, teve uma vida de privações até sua morte, com 42 anos. Porém, conseguiu transmitir aos filhos a educação requintada que teve.

Aos catorze anos, Waldir formou um pequeno conjunto com baixo, piano, bateria, trompete e sax. O grupo apresentava-se em bailes por Rio Novo e Waldir, além de tocar piano, cantava no estilo de Orlando Silva.

Seu pai não aprovou a iniciativa, mas os rapazes continuaram assim mesmo, pois o conjunto era um sucesso. "Éramos os únicos da cidade. Tinha que dar certo!", divertia-se Waldir.

Pouco tempo depois, foi estudar na Academia de Comércio de Juiz de Fora, Minas Gerais. Em 1936, com 17 anos, veio para o Rio de Janeiro, trazendo uma carta de apresentação para o compositor e flautista Benedito Lacerda. Graças a essa amizade, conseguiu um pequeno trabalho como cantor e pianista na rádio Guanabara e apresentou-se em programas de grande audiência, como O Nosso Programa, de Ataulfo Alves e Raul Longras, e Samba e Outras Coisas, de Marília e Henrique Batista - ambos na rádio Cruzeiro do Sul. A convite de Eva Todor, começou a tocar também nos intervalos de seu espetáculo no teatro Rival.

Nesta fase, lançou o solovox - um pequeno sintetizador de três oitavas, monofônico e importado que era acoplado ao piano acústico, fazendo um som diferente. O solovox, fabricado pela Hammond Organ Co norte-americana entre 1940 e 1950, foi o precursor dos teclados eletrônicos em geral e era conectado a um gabinete com um amplificador valvulado e alto-falantes de 8" que geravam o som. O solovox, o gabinete e o piano Steinway & Sons (que, no fim da década de 60, foi aposentado profissionalmente) eram guardados por Waldir, com muito carinho, em sua própria casa.

Waldir, então com algum prestígio, foi convidado a fazer uma temporada na Argentina. Alguns meses depois, em 1940, a morte de sua mãe obrigou-o a voltar para o Brasil. Decidiu abandonar a música e, numa entrevista ao Jornal do Brasil em 1975, explicou que Helena Calmon foi a grande responsável por sua carreira. "Foi minha mãe que me ensinou a tocar piano, ajeitando com paciência os meus dedos no teclado. Quando ela morreu, tive raiva de tudo e resolvi abandonar a música", justificou. Foi trabalhar então no banco Moreira Salles, mas, como ele próprio dizia, "era um péssimo bancário".

Durante a Segunda Guerra, Waldir foi convocado e serviu no Batalhão de Guardas da Presidência da República, no Palácio do Catete, e um de seus companheiros de pelotão foi o compositor e pianista Dick Farney. Aos poucos, Waldir voltou à música e acumulou o trabalho diurno com apresentações noturnas. Neste período, trabalhou no teatro Serrador, na rádio Globo e na boate Meia-Noite, do Copacabana Palace. Para conciliar tudo isso, dormia apenas 30 minutos por noite. "Eu tinha que acordar cedo por causa do exército. Colocava três despertadores em uma panela e a vizinha fazia o café para mim. Saía, agarrado ao balaústre do bonde, dormindo", lembrava Waldir Calmon. Colocava o único terno que possuía entre o colchão e o estrado da cama para ficar sempre esticado. Foram tempos difíceis, mas ele sempre lembrava de seu passado com o habitual bom-humor.

Em 1944, Waldir Calmon formou seu primeiro conjunto, Gentleman da Melodia, e com ele fez uma série de apresentações na rádio Globo. Logo depois, desligou-se do exército e foi para São Paulo trabalhar no Cassino Atlântico. Foi convidado então para tocar na recém-fundada boate Night and Day, no Rio de Janeiro, sendo obrigado a desfazer o Gentlemen da Melodia e deixou São Paulo.

O primeiro registro do piano de Waldir em vinil, ainda com o nome artístico Waldir Gomes, é de 1941, na gravação original de "Leva Meu Samba" - acompanhando o autor, Ataulfo Alves (Odeon). Apesar disso, só conseguiu gravar seu primeiro disco-solo em 1951 (Star), com os boleros "Como Eras Linda", de Theo Mackben, e "Por Quanto Tempo", de Marino Pinto e Don Al Bibi.

Em 1952, começou a apresentar o programa semanal Ritmos S. Simon, pela TV Tupi, e posteriormente pela TV Rio. O programa permaneceu dez anos no ar e transformou-se em um disco-brinde que o patrocinador, as lojas S. Simon, oferecia a seus clientes.

Ao mesmo tempo, a Rádio Serviço e Propaganda contratou Waldir Calmon e seu conjunto para uma série de apresentações transmitida em cadeia nacional diariamente pelas Associadas. O programa fez tanto sucesso que a Rádio Serviços montou uma fábrica de discos e lançou o seu primeiro LP com o pianista. O vinil chamava-se "Ritmos Melódicos" e possuía oito das músicas mais solicitadas pelo programa diário transmitido pelas Associadas. Waldir entrava para a história fonográfica como o primeiro músico a gravar um long-play de dez polegadas na América do Sul.

Waldir também gravava muitos jingles, como "duas gotas, dois minutos, dois olhos claros e bonitos" (Miguel Gustavo), do colírio Moura Brasil. Nesta fase, um de seus 78 rotações (Copacabana Discos) com as músicas "Mambo en España" (Ramon Marquez) e "Cao Cao Mani Mani Picao" (Carbô Menendez) foi um grande sucesso em vendas e execução. O pianista tornou-se famoso e passou a ser solicitado para bailes em todo o Brasil.

As gravações continuavam: em 56, lançou o LP "Samba, Alegria do Brasil" (Rádio). Neste álbum, encontramos "Na Cadência do Samba" (Que Bonito É), de Luís Bandeira, que se transformou em hino do futebol brasileiro, graças à veiculação maciça, em todos os cinemas do país, no noticiário Canal 100. Apesar disso, Waldir Calmon nunca recebeu os direitos de execução.

"Ritmos Melódicos" (Rádio) teve um segundo volume e outras séries de LPs surgiram, como "Chá Dançante", "Mambos", "Para Ouvir Amando" e, a mais famosa de todas, "Feito Para Dançar" (doze volumes). Com ela, Waldir atingiu a marca de 100.000 exemplares vendidos em 1957 - fenômeno para a época. A série "Feito Para Dançar" foi lançada em 1953 e foi o primeiro disco popular editado em 12 polegadas no Brasil, além de ser o único LP, na época, especialmente para dançar, sem interrupção de faixas.

A gravação de Waldir Calmon de "Rock Around the Clock", em ritmo de samba, causou grande impacto na época. Segundo o site Senhor F, "(...) em 1957, uma versão instrumental com o pianista Waldir Calmon, incluída em seu disco "Chá Dançante n°3", faria grande sucesso junto ao público adulto. Nos anos setenta, o próprio Bill Haley, em mais uma de suas turnês pelo Brasil - a primeira foi em abril de 1958 - regravou a música com arranjo misturando samba e rock'n'roll, acompanhado do conjunto paulista Lee Jackson (...)".

Waldir inovou e lançou o LP com um lado ininterrupto de música, sem intervalo entre as faixas, ideal para festinhas em casas de família. Criou um estilo próprio de tocar piano, com seus solos em oitavas, que tornava o seu som inconfundível. Chegou a lançar seis LPs por ano e era comum ter três ou quatro de seus discos simultaneamente nas paradas de sucesso. Entre reedições, lançamentos e compactos extraídos de LPs são cerca de 130 títulos.

Foi também surpreendente a longa carreira do long-play "Ama-me ou Esquece-me" que se manteve há alguns meses nas primeiras colocações." A pesquisa foi feita nas lojas: Brasileiras e Barbosa Freitas (ambas em Copacabana), Ramos Elétrica (Ramos), Mesbla da rua do Passeio, Casa Palermo (13 de maio) e Rei da Voz (as três no Centro do Rio de Janeiro).

Nesta época, gravou com a cantora Ângela Maria o LP "Quando os Astros Se Encontram" (Copacabana Discos). Sempre atento às novidades, sugeriu à Ângela que interpretasse uma canção mexicana desconhecida no Brasil. Nascia um dos maiores sucessos da "sapoti": "Babalu" (Margarita Lecuona).

Seu repertório era composto basicamente por ritmos dançantes e sucessos da época, nacionais e internacionais. "Qualquer música capaz de fazer com que um casal se levante e comece a rodopiar pelo salão me interessa", respondia sempre a quem perguntasse o critério para a escolha de suas canções.

Em 1956, saiu da Night and Day, após oito anos, e abriu sua própria boate no Leme, Rio de Janeiro - a Arpége. O sucesso foi tanto que outra série de discos, "Uma Noite no Arpége", surgiu. Nomes como Tom Jobim, Chico Buarque e Ary Barroso, entre outros, apresentaram-se em sua boate. Historiadores contam que Vinícius de Moraes foi à boate Arpège assistir a um show de seu amigo Tom Jobim quando conheceu um jovem e talentoso violonista, Baden Powell de Aquino, que também estava tocando na boate nesta mesma noite. Nessa época, Baden já tinha sido gravado por Lúcio Alves ("Samba Triste", parceria com Billy Blanco). O conjunto vocal MPB-4, no começo de sua carreira, também fez o show "Meu Refrão", ao lado de Chico Buarque, na boate Arpège (1965) - dois anos depois, estariam juntos novamente no Festival da Record, cantando "Roda-Viva" (segunda colocada no concurso). Edson Machado, baterista que influenciou muito a bossa-nova, também começou na Arpége.

Normalmente, Waldir trabalhava com o conjunto pequeno, porém, quando solicitado, o grupo crescia e dava lugar à Orquestra Waldir Calmon. Cantores eram pouco utilizados em discos, mas estavam sempre presentes nas apresentações ao vivo. O guitarrista Paulo Nunes, que trabalhou com Waldir vários anos, conta que, quando Mílton Banana fez parte do grupo, era um dos percussionistas. Certo dia, Waldir os reuniu e disse que um deles deveria aprender a tocar bateria, pois, naquele momento, estava precisando mais de um baterista do que de vários percussionistas. Mílton então resolveu aceitar o desafio e se tornou um dos bateristas mais importantes do cenário musical brasileiro.

Em 1959, formou a Waldir Calmon Produções Artísticas e fundou o selo Arpége que teriam, como primeiro disco, a reedição do vinil "Uma Noite no Arpége 3" - já lançado pelo selo Rádio (1956) e Copacabana (1959).

Waldir Calmon ganhou vários troféus, prêmios e apareceu também em filmes nacionais: "É Pra Casar" (1953), "Com a Mão na Massa" (1953), "Hoje, o Galo Sou Eu" (1958) e no documentário "Rio à Noite"(1962). Em outros filmes, como em "Depois Eu Conto" (1956), seu piano fez fundo musical para várias cenas.

A vida tinha se transformado para aquele menino pobre: o bonde deu lugar aos novíssimos carros importados; o único terno foi substituído por camisas inglesas, paletós e calças de linho e a velha casa alugada na Tijuca, que dividia com seus irmãos, foi trocada pelos luxuosos quartos de hotéis. Apesar de sua vida basicamente noturna (em boates, teatros e casas de show), Waldir não bebia uma gota de álcool sequer - apenas água e refrigerantes. Fumava muito, mas largou o hábito quando sua primeira filha, Márcia, nasceu.

Waldir Calmon tinha uma agenda cheia, dividindo-se entre as gravações, a produtora, os bailes (às vezes, dois por dia) e a sua boate. No entanto, os frequentadores da Arpége reclamavam quando ele viajava e era substituído por outro conjunto, gerando grande insatisfação. Essa rotina desgastante durou até o começo da década de 60, quando Brasília foi inaugurada. A mudança da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília foi um divisor de águas na noite carioca. Políticos, empresários e pessoas influentes deixaram o Rio, levando boa parte do dinheiro que circulava na noite.

A música também passou por uma grande transformação. No Brasil, a bossa-nova surgia e, no mundo, o rock. A ditadura brasileira trouxe uma reformulação musical mais profunda: as letras tinham papel mais importante e deixaram de ser um mero entretenimento para se transformar em veículo de conscientização das massas. Melodia e ritmo eram relegados a segundo plano - dois dos maiores trunfos do instrumentista Waldir Calmon. Mesmo assim, continuou gravando, mas a vendagem de seus discos começou a cair progressivamente.

Em 1962, casou-se com a cantora Marta Kelly e teve seus dois filhos: Márcia e Marcus. O selo Arpége e a produtora acabaram e, em 1968, a boate fechou. Waldir começou a fazer temporadas pelo Brasil até que, em 1969, o diretor artístico do Canecão, Wilton Franco, convidou-o para animar a casa de shows em Botafogo, Rio de Janeiro. Nessa época, trocou o piano acústico por um órgão Hammond B-3, seguindo a tendência mundial.

Em 1970, gravou o último LP desta fase, "Waldir Calmon e seus Multisons" (Copacabana Discos). Em janeiro de 77, após sete anos no Canecão, voltou às viagens. Mas, em abril do mesmo ano, estreou na Churrascaria Roda-Viva, na Urca, Rio. Em dezembro de 78, recebeu uma proposta "irrecusável", como ele mesmo definia, da cervejaria e restaurante Bierklause, no Lido, Rio. Ficou até maio de 79, quando a direção da Churrascaria Roda-Viva pediu para que voltasse a tocar na casa, fazendo uma contraproposta também "irrecusável".

Voltou a gravar em 78 e lançou o disco "Discoteque - Feito Para Dançar". Em 1980, gravou seu último LP: "Feito Para Dançar". Este álbum pareceu um retorno às origens: deixou o órgão e voltou ao piano acústico (que, aliás, preferia tocar). Seu piano era valorizado pelo ritmo e acompanhamento claros - assim como nas primeiras gravações.

Certo dia, disse que jamais deixara de tocar um só dia e que gostaria de morrer trabalhando. "Não conheço nada no mundo tão agradável quanto tocar", explicou. Waldir trabalhou até a madrugada do dia 11 de abril de 1982. Pela manhã, reclamou de "umas dores estranhas no peito". Não as levou a sério, pois detestava ir a médicos, e no meio de um passeio com a família teve um enfarte fulminante.

Fonte: Site oficial.

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