Araraquara/SP,20/4/1919 ******* São José do Rio Preto/SP, 14/3/1996)
Francisco dos Santos, o Cascatinha, começou cedo na música. Depois da morte do pai, em 1929, quando ele tinha cinco anos, mudou-se de Araraquara, sua cidade natal, para Marília. E lá começou a se interessar pela arte. Aos dez anos de idade ingressou na banda local como tocador de caixa. Tinha um apurado ouvido musical e vivia assobiando os sucessos que tocavam no rádio.
Aos dezoito anos, Cascatinha já tinha muita noção rítmica. Além de tocar na banda de Marília, participava de outro conjunto como baterista e cantor. Neste mesmo ano, o jovem músico é contratado pelo Circo Nova Iorque e parte da cidade com trupe.
No Circo, começa a amizade com o malabarista paraibano Natalício Fermino dos Santos. As conversas eram embaladas pela cantoria e pelo som do violão. Com o amigo, Francisco aprende a lidar com o novo instrumento e, assim, resolvem formar uma dupla musical. Natalício é “Chope”, e Francisco , o “Cascatinha”, nome de uma cerveja famosa na época.
Em 1941, quando a dupla “Chope e Cascatinha” já percorria as cidades do interior paulista, Francisco conheceu Ana Eufrasina da Silva, a cantora do Jazz Band de Araras.Apaixonaram-se e começaram a namorar. Cinco meses depois, no dia 23 de setembro de 1941, Francisco e Ana casaram-se e, apesar da família não aprovar e dizer que artista de circo “tinham um amor em cada praça”, a união durou mais de quarenta anos.
Com o casamento, a dupla “Chope e Cascatinha” ganhou outra parceira esse transfromou no “Trio Esmeralda”, com Natalício, Francisco e Ana. O trio rumou para o Rio de Janeiro e participou de vários programas de rádio, entre eles o popular “Papel Carbono”, de Renato Murce, transmitido Rádio Nacional.
No ano de 1942, ainda no Rio de Janeiro, Cascatinha e Chope tiveram um desentendimento e Chope resolveu abandonar o conjunto. Como tinham um show marcado para o mesmo dia, na cidade de Volta Redonda - RJ, Cascatinha e Ana resolveram se apresentar sem o parceiro. Porém, não poderiam usar o nome de “Trio Esmeralda” e, por isso, Francisco teve a idéia de dar um nome artístico à esposa: chamou-a Inhana. Segundo ele, era uma forma de “acaipirar” o nome dela, já que em muitas cidades do interior as Anas são chamadas de Inhanas - rasgo verbal proveniente do termo “Sinhá Ana”. Pela primeira vez então, a nova dupla, Cascatinha e Inhana, receberia o aplauso do público brasileiro.
Com as apresentações, o casal de cantores é contratado pelo Circo Estrela D’alva do Rio de Janeiro e partem em direção ao interior de São Paulo. Pelo caminho, mudam para o circo Parque de Diversões Imperial e, quando a patota estaciona na cidade de Bauru, em 1947, Cascatinha e Inhana são convidados a cantar na Rádio Clube de Bauru, a PRG-8 – como resultado, assinam contrato de um ano com a rádio.
Terminado o contrato, o casal volta para São Paulo, agora trabalhando na Rádio América. A popularidade na emissora leva o cantor de emboladas Manezinho Araújo a convidar Cascatinha e Inhana para se apresentarem na Feira Folclórica que se realizava no Rio de Janeiro e reunia importantes nomes do rádio. Em 1950, recebem convite para ingressarem no “cast” da Rádio Record, a mais poderosa emissora paulista da época. E, dessa vez, com um contrato de doze anos.
Na Record, conhecem o violonista Antônio Rago, líder do conjunto “Rago e Seu Regional”.Cascatinha e Inhana passam a visitar o estúdio da Todamérica, onde o violonista e seu conjunto gravavam choros para discos de 78 rotações. Por insistência de Rago e do compositor Raul Torres, a dupla é ouvida pelo diretor da rádio Hernani Dantas e, em julho de 1951, Cascatinha e Inhana são convidados a gravar o primeiro disco. Acompanhados por “Rago e Seu Regional”, o casal registrou a canção “La Paloma”, de S.Yradier.
Em 1952, a dupla grava o segundo disco e a música sertaneja de Cascatinha e Inhana é ouvida no Brasil inteiro. Com “Índia” de um lado, e, “Meu Primeiro Amor do outro” - duas músicas paraguaias (a primeira de Ortiz Guerrero e José Assunción Flores e a segunda de Hermínio Gimenez), com versões de José Fortuna -, o disco foi um verdadeiro fenômeno de vendas em todo o país: foram mais de 500 mil cópias vendidas. Com o sucesso das canções, em 1955, o casal foi convidado a participar, do filme “Carnaval em Lá Maior”, da U.C.B., para interpretar as músicas paraguaias.
Depois do sucesso nas vozes de Cascatinha e Inhana, “Índia” ainda continua sendo referência na música popular. Nos anos 70, mais de vinte anos depois da gravação original, Gal Costa lançou o LP “Índia” e, mais recentemente, o cantor Roberto Carlos também regravou a canção paraguaia.
Entretanto, Cascatinha e Inhana não se restringiram às versões de músicas paraguaias. No repertório havia espaço para a modinha, temas folclóricos, sambas-canções e, é claro, para as músicas caipiras. Na Rádio Record, o casal recebeu o epíteto de “Os Sabiás do Sertão”, devido às interpretações de canções que remetiam ao sertão e a todo o interior de São Paulo – entre elas, “Flor do Cafezal”, de Luis Carlos Paraná.
Depois de muitos prêmios durante a carreira - entre ele o Roquete Pinto -, nos anos de 1970, a dupla começa viver uma fase mais acanhada. Os LPs ainda eram lançados, mas de forma menos numerosa. Com isso, Cascatinha resolveu investir dinheiro num circo, mas acabou perdendo tudo. Precisando de dinheiro, voltaram aos palcos do interior paulista, onde ainda eram venerados como no início da carreira. Em março de 1978, o casal conseguiu lançar o espetáculo “Índia”, no Teatro Alfredo Mesquita, em São Paulo. Num misto de história e música, Cascatinha e Inhana contavam fatos de suas vidas e da carreira e cantavam seus sucessos.
No ano de 1981, quando a dupla ia comemoraria trinta anos de carreira num show que seria realizado no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, com a participação de vários artistas, Ana faleceu, aos 57 anos, após sofrer um ataque cardíaco enquanto caminhava pela rua. A partir daquele 12 de junho, “Os Sabiás do Sertão”, o casal de ouro da música popular brasileira, chegaria ao fim.
Cascatinha continuou a se apresentar sozinho em Votuporanga/SP e depois em São José do Rio Preto/SP, onde veio a falecer em 1996, na Beneficência Portuguesa, vítima de cirrose hepática.
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