segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Wilson Simonal

(Rio de Janeiro/RJ, 26 de fevereiro de 1939 - São Paulo/SP, 25 de junho de 2000)

O cantor Wilson Simonal de Castro, conhecido como Wilson Simonal, nasceu em 26 de fevereiro de 1939, em Água Santa, subúrbio do Rio de Janeiro.

Sua mãe era lavadeira. O nome Simonal foi uma homenagem ao médico que a ajudava a manter a casa pobre: seu sobrenome era francês, Simonard. O tabelião grafou Simonal. Começou a cantar no fim dos anos 50. Simonal descobriu sua vocação artística enquanto prestava o serviço militar obrigatório. Começou a carreira cantando em bailes do 8º grupo de Artilharia da Costa, cantando em inglês, rock e calipsos. Ouvido por Sérgio Mendes, Luís Carlos Mile e Ronaldo Bôscoli, foi levado por eles ao Beco das Garrafas, em 1961.

Mas o inquieto cantor, de voz afinadíssima, aveludada, e dono de um balanço infernal, único, nunca ouvido antes nos palcos da zona sul carioca, não ficaria preso às amarras formais da contida bossa nova. Simonal criaria seu próprio estilo ­ ainda que seu primeiro grande sucesso houvesse sido "Balanço Zona Sul", samba de Tito Madi, um dos precursores da bossa. Simonal uniu-se artisticamente ao pianista Luís Carlos Vinhas e viajou com o trio dele, o "Bossa Três", pelo mundo. Lançou, em 1962, um disco formidável, "A Nova Dimensão do Samba", que trazia a antítese dos postulados estéticos da bossa. Era um trabalho vigoroso, extrovertido e trazia, pioneiramente, a mistura do samba com a música pop negra norte-americana e intenções jazzísticas. Nesse disco, Wilson Simonal gravou e tornou populares as músicas "Nanã", de Moacir Santos, e "Lobo Bobo", de Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli. Eram interpretações sofisticadas, obra de um grande, inovador intérprete.

No entanto, Wilson Simonal abandonaria, logo, a linha sofisticada apontada por esse trabalho. Em 1966, estava no comando do programa "Show em Si.. Monal", da TV Record, e começava a estabelecer o feitio de seu sucesso popular, gravando "Meu Limão, Meu Limoeiro", uma adaptação feita por seu amigo Carlos Imperial de uma cantiga tradicional norte-americana, e cortando as palavras do País Tropical, de Jorge Ben (antes de vira Ben Jor): não cantava "Moro num país tropical/ Abençoado por Deus...", mas "Mo... num pa tro pi", e assim por diante. A expressão "patropi" entrou na fala cotidiana. Era uma maneira simpática e debochada de referir-se ao Brasil sem liberdades do regime militar.

Em 1970, acompanhou a seleção brasileira de futebol à Copa do Mundo, realizada no México.

No fim dos anos 60, foi um dos maiores pop stars que o Brasil conheceu, chegando a reger um Maracanãzinho lotado.

No entanto, em 1972, em plena ditadura militar, Simonal foi acusado de ser um delator a serviço dos órgãos de repressão, e, no auge do sucesso, banido do cenário musical e da mídia. Seus discos sumiram das lojas e rádios, foram quebrados e destruídos, shows e contratos foram cancelados, outros artistas recusavam-se a trabalhar a seu lado, e o cantor amargou ostracismo até o fim da vida. Poucas foram as pessoas que compareceram ao seu velório, entre elas os cantores Ronnie Von e Jair Rodrigues. Quando da primeira internação, Simonal chegou a receber a visita do cantor e compositor Geraldo Vandré – artista símbolo do outro extremo ideológico, a esquerda vítima da repressão e tortura militar.

A sina de Simonal teve início quando foi acusado de encomendar uma surra a ser dada em seu contador Rafael Viviani. Segundo o cantor, um segurança que trabalhava para ele descobriu que Viviani o roubava e tomou a iniciativa de seqüestrar e torturar o contador, sem que Simonal soubesse. Durante o inquérito, um agente do DOPS teria afirmado que o cantor era informante do serviço de informação. A fama de delator perdurou por toda sua vida, embora nenhum artista afirmasse ter sido prejudicado politicamente pelo cantor.

A indisposição contra Wilson Simonal vinha de antes. Em julho de 1969, o semanário de esquerda "O Pasquim" publicou entrevista de capa sob o título "Não sou racista", em que acuava Simonal sob perguntas sobre racismo e o fato de ele comer caviar e ter mordomo.

"Acho absurdo e hipócrita dizerem agora que ele foi inocentado. Ele nunca foi criminoso. Seu crime foi ser negro, famoso, rico e dono de um talento monstruoso", afirma o músico João Parahyba, 54, do Trio Mocotó, que acompanhava Jorge Ben Jor, autor de "País Tropical" (69) e outros sucessos de Simonal.

"Ele não tinha conhecimento sobre a situação política real do país. Cometeu o erro de achar que ser amigo dos 'home' era legal", emenda o maestro Cesar Camargo Mariano, 60, ex-líder do grupo musical de Simonal.

Em 1971, dias antes do episódio no DOPS, um anúncio no "Pasquim" ilustrava um dedo negro apontado para a direita, sob legenda de que era "o magnífico e ereto dedo" de Simonal.

Só nos anos 90 voltou-se a falar de Wilson Simonal. Depois de "Os Sambas da Minha Terra", de 1991, em 1994 foi lançada a coletânea "A Bossa e o Balanço de Wilson Simonal", e no ano seguinte o CD de inéditas Brasil, seu 36º e último disco. Em 1999, a segunda mulher do cantor, a advogada Sandra Manzini Cerqueira, chegou a levantar na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, no Centro de Inteligência do Exército e na Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça documentos, confirmando a ausência de registros de que Wilson Simonal tivesse colaborado com a repressão.

Wilson Simonal voltou à cena em 2000 ano por causa de seus dois filhos, Wilson Simoninha e Max (Maximiliano) de Castro, que lançaram seus primeiros discos pela gravadora Trama.

Em 2002, após sua morte, a família do cantor requisitou abertura de processo para verificar a acusação de informante do regime. Foram reunidos depoimentos de diversos artistas, além de um documento datado de 1999 em que o então secretário de Direitos Humanos, José Gregori, atestava que não havia evidências - fosse nos arquivos do Serviço Nacional de Informações (SNI) ou no Centro de Inteligência do Exército - de que Simonal houvesse agido como delator. Como resultado, o nome do músico foi reabilitado publicamente pela Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em 2003.

Wilson Simonal morreu no dia 15 de junho de 2000, aos 61 anos, em decorrência de falência múltipla dos órgãos provocada por disfunção hepática. Ele estava internado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, com a saúde debilitada há algum tempo.

Discografia

1961 - Teresinha (Carlos Imperial)
1963 - Tem algo mais
1964 - A nova dimensão do samba
1965 - Wilson Simonal
1966 - Vou deixar cair...
1967 - Wilson Simonal ao vivo
1967 - Alegria, alegria !!!
1968 - Alegria, alegria - volume 2
1968 - Quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga
1969 - Alegria, alegria - volume 3
1969 - Cada um tem o disco que merece
1969 - Homenagem à graça, à beleza, ao charme e ao veneno da mulher brasileira
1970 - Jóia
1972 - Se dependesse de mim
1975 - Ninguém proíbe o amor
1977 - A vida é só cantar
1979 - Se todo mundo cantasse seria bem mais fácil viver
1981 - Wilson Simonal
1985 - Alegria tropical
1991 - Os sambas da minha terra
1995 - Brasil
1997 - Meus momentos: Wilson Simonal
1998 - Bem Brasil - Estilo Simonal
2002 - De A a Z : Wilson Simonal
2003 - Alegria, alegria
2003 - Relançamento de Se todo mundo cantasse seria bem mais fácil viver
2004 - Rewind - Simonal Remix
2004 - Wilson Simonal na Odeon (1961-1971)
2004 - Série Retratos: Wilson Simonal

Em 2008, é lançado o documentário o que o documentário "Simonal - Ninguém Sabe o Duro Que Dei", de Claudio Manoel, Micael Langer com imagens históricas de suas apresentações.

Fontes: Dicionário da Música Popular Brasileira; Wikipédia, Cliquemusic.

Nenhum comentário:

Postar um comentário