segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Jararaca e Ratinho

(José Luís Rodrigues Calazans, o Jararaca (Maceió/AL, 29 de setembro de 1896 ------- Rio de Janeiro/RJ, 9 de setembro de 1977) e Severino Rangel de Carvalho, o Ratinho (Itabaiana/PB, 13 de abril de 1896 -------- Duque de Caxias/RJ, 8 de setembro de 1972).

José Luís encontrou Severino em 1918, nas rodas artísticas de Recife PE.

Começaram a tocar juntos, organizando um conjunto, os Turunas Pernambucanos, onde apareciam ao lado de Pirara e Romualdo Miranda (violões), Robson (cavaquinho) e Artur Sousa (ganzá). Todos os integrantes adotaram apelidos de bichos, permanecendo os de Jararaca e Ratinho mesmo depois da dissolução do conjunto.

A origem dos apelidos têm a ver com seus talentos, Jararaca recebeu seu codinome após apelidar um comerciante amigo de "Cobrinha" que pagou na mesma moeda. Severino, ou melhor, Ratinho, só vivia cantando a marcha Rato, Rato. Daí para apelido pegar foi um pulo.

Em 1921 os Turunas exibiram-se por 15 dias no Cine-Teatro Moderno, com o conjunto Oito Batutas, que visitava Recife. Foi o estímulo decisivo para o grupo, convidado então para os festejos do centenário da Independência, no Rio de Janeiro, em 1922, fazendo grande sucesso com suas emboladas, cocos, baiões, e com seus trajes típicos: alpercatas e chapéu de couro. O vespertino "A Noite" deu-lhe ampla cobertura, chefiada pessoalmente por seu proprietário, Irineu Marinho.

O conjunto foi convidado a gravar dois discos na Odeon, obtendo grande êxito com "Espingarda-pá-pá-pá-pá" - arranjo de Jararaca sobre tema folclórico - e Jararaca gravou também um disco solo, com "Vamos embora Maria", samba sertanejo, e "Passarinho verde", canção nortista (ambas de sua autoria).

O conjunto excursionou então pelo Sul e, contratado pela companhia Abigail Maia, apresentou-se em Buenos Aires, Argentina, desfazendo-se em seguida. Jararaca (violão e canto) e Ratinho (saxofone) ainda se apresentaram por algum tempo no Café Rio Branco, em Montevidéu, Uruguai, mas a dupla só se formou com a inauguração do Teatro Santa Helena, na Praça da Sé, de São Paulo SP, em 1927, fazendo grande sucesso com emboladas entremeadas de quadros humorísticos.

Em 1928 Francisco Alves gravou, de Jararaca, "Meu sabiá", na Odeon, e no ano seguinte "Meu Brasil", na Parlophon; e foi na Odeon que a dupla gravou seu primeiro disco, em 1929, apresentando, de sua autoria, "Caipirada" e "Lista do baile". Começou então a desenvolver seus quadros, explorando determinadas situações, como as relações dos "turcos" com os caipiras, das quais "Aniversário do Abdula" e "A loja do turco" são um exemplo.

A dupla excursionou pelo interior com Cornélio Pires. Em 1930 Ratinho gravou ao saxofone alguns choros e valsas de sua autoria, entre os quais "Saxofone, por que choras", "Curiatã de coqueiro", "Cenira", "Eu e eles". Dois anos depois a dupla cantava músicas nordestinas e regionais, e contava piadas na Casa de Caboclo, apresentando-se também na Rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro. Jararaca passou então a compor com o maestro Vicente Paiva, fazendo sucesso no Carnaval de 1937 com a marcha "Mamãe eu quero", gravada por Jararaca na Odeon. Outra composição da dupla, o samba "Pode ser que sim" foi gravado pelo conjunto Os Trigêmios Vocalistas em 1943, na Columbia.

Com o advento do Estado Novo, veio a fase áurea da Rádio Nacional e o apogeu da dupla, que teve programa próprio, além de participar do programa Eucalol, em que Ratinho tocava choros e valsas ao saxofone.

Em 1942 a dupla gravou pela Odeon um disco representativo dessa fase, apresentando, de sua autoria, o desafio "Desafiando" e a embolada "Oi, Chico", seguindo-se, em 1945, disco com a marcha "Bonito" e a batucada "Meu pirão primeiro". Dois anos depois, Ratinho gravou, ainda na Odeon, o choro "Pinicadinho", grande sucesso da dupla.

Na Rádio Nacional, onde atuou de 1936 e 1945, e excursionando pelo país, a dupla integrou a famosa Lira do Xopotó, banda que sugeria um conjunto do interior do Brasil, em que Jararaca fazia o papel de Mestre Filó e Ratinho o de Jararaca. Quando a programação radiofônica começou a ser feita em disco, a dupla passou para a televisão, estreando com o programa "A-E-I-O-Urca", na TV Tupi.

Em 1960 a dupla apresentou em São Paulo a burleta "Por que me ufano de Bananal", desempenhando nessa década o mesmo papel de compadres caipiras representado durante toda a carreira, nos programas "Balança mas não Cai", "UAU" e "Aquele Abraço", na TV Globo.

Em 8 de setembro de 1972 a dupla caipira pioneira do humorismo no rádio sofre um duro golpe: a perda de Ratinho. Morreu pobre. Morava numa humilde casa em Caxias, no Rio de Janeiro, ao lado da casa de seu parceiro.

Jararaca ainda veria um último sucesso seu após o sumiço de Ratinho: "Do Pilar", que Tom Jobim transformou em "O Boto" , sucesso de seu álbum "Urubu", de 1976. Neste mesmo ano foi chamado para participar do programa "Chico City" para o papel do Coronel Sucuri.

No dia 25 de julho é internado para fazer uma operação no olho direito, tendo logo depois complicações cardiovasculares vindo a falecer no dia 9 de setembro de 1977.

Em 1979 uma pesquisadora formada em letras e pedagogia Sônia Maria Braucks Calazans Rodrigues lançou o livro "Jararaca e Ratinho, a famosa dupla caipira". O projeto se originou de um concurso de monografias pelo Projeto Lúcio Rangel da Funarte. Na época a autora declarou em entrevista a Folha de São Paulo que "a inteligência e o alto nível de humor de Jararaca me apaixonaram", declarou. Na época, a Funarte reeditou o LP "Jararaca e Ratinho", gravado pela Copacabana em 1960.


Fonte: Blog Mpbantiga e Memorial pernambucano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário